CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM SINDROME DA GAIOLA?
*Prof. Dr. Valmor Bolan
As crianças sofrem durante a crise sanitária que se estende desde março de 2020, com a pandemia do coronavírus. As mudanças nos costumes, as restrições que levaram inclusive ao fechamento das escolas por um período bem longo, a necessidade de se adaptar ao ensino on line, tudo isso tem trazido ansiedade e até depressão entre muitas crianças e adolescentes. Suicídio e síndrome da gaiola (medo de sair de casa) são fatores apontados por especialistas, em um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Foi o que apresentaram os estudiosos na Comissão Externa de Enfrentamento à Covid 19 da Câmara dos Deputados, em 17 de junho de 2021, coordenado pelo psiquiatra de crianças Guilherme Polanczyk. Na matéria “Uma em cada 4 crianças teve sinais de ansiedade e depressão na pandemia, aponta estudo”, publicada no site da Câmara dos Deputados, destaca que “a pesquisa monitorou a saúde mental de 7 mil crianças e adolescentes de todo o País desde junho do ano passado. Polanczyk salientou que a pandemia é uma situação de estresse que pode levar ao desenvolvimento ou ao agravamento de transtornos mentais em indivíduos suscetíveis. Os efeitos piores são esperados em crianças mais vulneráveis (…) No Brasil, dos 69 milhões de pessoas com 0 a 19 anos, há registro de 10,3 milhões de casos de transtornos”.
Ainda sobre os efeitos da pandemia nas crianças, salientou o Dr. Polanczyk: “Os casos são silenciosos, e uma parcela ínfima dos casos estão sendo acompanhados e têm acesso a serviços”. E acrescentou: ” Em todo o mundo a depressão é uma das principais causas de incapacidade entre adolescentes”. O suicídio é em alguns países a segunda, e em outros, a terceira principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos”. O Presidente da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática, Wilmer Bottura, explicou ainda a “síndrome da gaiola”: “Neste momento ninguém está sem medo de sair de casa, as crianças, muitas delas, também, muitas vezes pela reação dos pais. Nós precisamos tranquilizar principalmente os pais, e aumentar a quantidade de diálogo na família”. Por isso é importante que pais, professores e demais profissionais da Educação interajam mais, para evitar que o medo provoque mais transtornos. As crianças precisam de apoio e acolhida, para se sentirem protegidas e amparadas, e aprenderem a superar os desafios. Os próprios pais e professores deveriam também receber um preparo para esta nova situação, tendo em vista a sua complexidade, em nível global. O mundo todo busca as melhores soluções diante dos problemas causados pela pandemia.
Em relação ao papel dos professores, cabe ressaltar o que disse duas especialistas. A psicopedagoga Angela Soares afirmou que “em geral, professores têm poucos recursos e conhecimentos para ajudar os alunos. ‘O momento também é de pandemia histórica, social e humana’, frisou. Para ela, o medo de sair de casa pode não ser só da pandemia, mas também fruto de ansiedade por questões em casa e falta de estrutura nas escolas. Ela reiterou que a crise mental das crianças e adolescentes já vem de antes da pandemia. E acrescentou que se trata de uma geração que não sabe lidar com frustações”. E ainda a Presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia – Seção Goiás, Maria do Carmo Abreu “acredita que o afeto precisa ser incluído no âmbito da educação. Além disso, a noção de saúde deve incluir a saúde mental, inclusive para pessoas de baixa renda. Conforme ela, as pessoas foram arrancadas do seu modo de viver pela pandemia, trazendo alto grau de incerteza e angústia. Como possíveis saídas ‘desse território movediço’, citou o diálogo; a escuta de sentimentos, valorizando-os; dar tempo e ter tolerância; ter espaço para a solitude; e buscar esclarecimentos sobre os temas”. Tudo isso nos leva a refletir sobre a importância da interação dos pais com seus filhos, dos professores com os alunos e os seus pais, para que juntos possam minimizar os efeitos da pandemia, especialmente entre as crianças e adolescentes.
Valmor Bolan é Doutor em Sociologia. Professor da Unisa. Ex-reitor e Dirigente (hoje membro honorário) do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras. Pós-graduado (em Gestão Universitária pela OUI-Organização Universitária Interamericana) com sede em Montreal-Canadá.