EDGAR MORIN COMPLETA 100 ANOS
Com saúde física e intelectual, o filósofo francês, antropólogo e sociólogo Edgar Morin completou 100 anos em 8 de julho de 2021, tendo recebido homenagem em Paris, em evento com apoio da UNESCO. Edgar Morin é um dos maiores pensadores do século XX e XXI com abrangência para temas complexos que hoje são objetos de estudo no mundo todo. Sempre esteve na vanguarda do pensamento, buscando compreender as profundas transformações da sociedade no mundo após a Segunda Guerra Mundial e no início do século 21. No evento de homenagem aos seus 100 anos, Edgan Morin fez uma breve conferência com o tema: “Meu Caminho”, tratando também de questões sobre a globalização.
Edgar Morin identificou em sua exposição, problemas que aparentemente pareciam ter sido superados no século 20, mas que retornam agora com mais complexidade, pois se houve uma globalização econômica e de comunicação, não houve de mentalidade, havendo ainda muita resistência de abertura às novas possibilidades trazidas pela globalização. O momento em que o capitalismo e a economia de mercado derrubam os muros e universalizam as tecnologias de comunicação, as mentalidades não se globalizam nada. ‘Cria-se uma consciência de comunidade frente ao perigo nuclear, ecológico ou frente ao domínio do mercantilismo, porém, ao mesmo tempo, há essa tendência ao ensimesmamento, que vem da minha adolescência: essas tendências nacionalistas obtusas, esse medo do estrangeiro, o desprezo das ‘raças inferiores’. Entretanto, agora
”Há outros bodes expiatórios”. E acrescentou: “Não tomamos consciência das coisas. Porém, sim, acabamos nos dando conta de que as interações, as interdependências técnicas e econômicas criaram uma retração ‘a solidariedade humana. Isso é o que vimos com a pandemia desde o início: cada país se fechou e se enclausurou”.
O que Edgar Morin quer dizer é que o grande desafio da atualidade é a convergência de ações que propiciem ganhos para todos, e não a exclusão ou o ensimesmamento que possa comprometer a solidariedade. Isso não significa que os países devam abrir mão de suas soberanias, mas dialogar e interagir mais na busca de soluções para crises globais. Daí resumiu como pensa os desafios do nosso tempo: “Aqui está o esboço desta caminhada do meu pensamento para tentar formular o que deve e tem de ser um conhecimento complexo; quer dizer, em que quando há complexidade não é apenas a parte dentro do todo, mas o todo dentro de uma parte; não apenas componentes complementares, mas antagonistas. Em segundo lugar, um pensamento complexo que organiza o conhecimento”. Reconhecer a complexidade não é motivo para desânimo, pelo contrário, mas de disposição para melhor organizar o conhecimento e fazer acontecer à solidariedade humana diante da realidade exo. A pandemia do novo coronavírus foi uma demonstração dessa necessidade rende maior abertura para que possamos junto superar as crises do nosso tempo. Nesse sentido, o pensamento de Edgar Morin é uma das referências para o debate atual.
Valmor Bolan é Doutor em Sociologia. Professor da Unisa. Ex-reitor e Dirigente (hoje membro honorário) do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras. Pós-graduado (em Gestão Universitária pela OUI-Organização Universitária Interamericana) com sede em Montreal-Canadá.