Geral

LIÇÕES DA PANDEMIA

Ao passar de 100 mil óbitos por causa da covid 19, o Brasil está em segundo lugar no ranking da Universidade John Hopkins, atrás apenas dos Estados Unidos, em números de infectados e mortos pelo novo coronavírus. O Congresso nacional decretou luto oficial e muitos se indagam por que o País chegou a esse número. Houve, desde o início, muita desinformação e desencontro de dados, subestimação do potencial da doença e divergência quanto às providências a serem tomadas. Enquanto a maioria dos governadores e prefeitos (respaldados pelo STF e pela Constituição) decretaram as medidas de isolamento social, o presidente Jair Bolsonaro manifestou a preocupação com o comércio fechado, o desemprego e os danos da economia. Houve ainda fake news espalhadas pelas redes sociais, negacionismo, teorias da conspiração etc., e tudo isso dificultou uma ação coordenada, em nível nacional, que pudesse agilizar iniciativas mais eficazes. O fato é que a pandemia deu evidência ‘a nossa fragilidade, o que nos faz perguntar: por que ficamos tão vulneráveis numa época de tão grandes avanços no campo do conhecimento, especialmente da ciência e da tecnologia. Precisamos aprender as lições deixadas por essa provação. Foi o que abordou o Cardeal-Arcebispo de São Paulo, em seu artigo publicado em 8 de agosto de 2020, no jornal “O Estado de São Paulo”, com o título: “O que ganhamos com a pandemia?” Diz Dom Odilo: “Não deveríamos subestimar as lições que a pandemia nos ensina, ou recorda. Aprendemos novamente a fazer as contas com a nossa fragilidade e os medos mais genuínos, não causados por fantasmas imaginários, que demandam horas de divã e alguns medicamentos fortes. É o medo de ficar doente, de não mais conseguir respirar direito, de perder a própria vida ou a vida de pessoas queridas… Continuamos humanos e vulneráveis, apesar das inegáveis e belas conquistas científicas e tecnológicas, e percebemos de novo que o mais precioso e belo da vida é o fato de viver e partilhar a vida com as pessoas ao nosso redor. Parece-me uma lição salutar.  A pandemia, por outro lado, obrigou-nos a reconhecer que todos, sem distinção, estamos expostos ao risco e precisamos uns dos outros. O cuidado que cada um tem pela própria saúde conta para a saúde dos outros também. Nossos projetos pessoais e coletivos, estribados no individualismo, são duramente postos à prova. Ninguém vence a pandemia sem a ajuda dos outros”. O maior legado, portanto, da pandemia, deve ser o da solidariedade. É hora de nos ajudarmos, buscarmos a superação da dor e vencer a indiferença e o desânimo. Acrescentou ainda Dom Odilo: “Experimentamos, neste tempo, a importância da atenção abnegada de profissionais da saúde e outros agentes sociais, que expõem ao risco a própria vida para salvar a de outros. Todos temos algo a ser posto mais efetivamente a serviço dos demais. Ninguém é tão pobre que não possa ajudar alguém; ninguém é tão rico que não tenha nada a receber; a sensação de autossuficiência, de fato, empobrece os sentimentos humanos. Todos temos algo a aprender dos outros, mesmo daqueles que têm convicções diversas das nossas. Seria hora de valorizar aquilo que se conseguiu descobrir e fazer em comum para a superação das emergências desencadeadas pela pandemia. Muitas energias positivas foram suscitadas e deveriam ser valorizadas, uma vez superada a crise. Os grandes objetivos comuns da existência humana e os muitos desafios que enfrentamos oferecem motivos suficientes para não desperdiçarmos energias preciosas em divisões e polarizações excludentes e fratricidas”. Esperamos que seja possível o quanto antes que a pandemia seja superada, e que as medidas que tanto afetaram a economia do País sejam minimizadas. A crise mostrou também um grande ceticismo da população em relação à ciência, daí teses negacionistas proliferarem com tanta rapidez pelas redes sociais e a crescente rejeição às vacinas. É preciso que saibamos discernir e evitar reducionismos. A ciência pode contribuir para vencer a pandemia. O que queremos é que prevaleça a razão, para que os esforços de pesquisadores e médicos consigam chegar a resultados satisfatórios e eficazes no combate à covid 19.

Valmor Bolan é Doutor em Sociologia. Professor da Unisa. Ex-reitor e Dirigente (hoje membro honorário) do Conselho de Reitores das  Universidades Brasileiras. Pós-graduado (em Gestão Universitária pela OUI-Organização Universitária Interamericana) com sede em Montreal-Canadá.

Valmor Bolan

Valmor Bolan é Doutor em Sociologia. Professor da Unisa. Ex-reitor e Dirigente (hoje membro honorário) do Conselho de Reitores das  Universidades Brasileiras. Pós-graduado (em Gestão Universitária pela OUI-Organização Universitária Interamericana) com sede em Montreal-Canadá.