Na mente dos desatinados
(Claudemir M Moreira)
Foi olhando fundo em seus olhos, que entendi a solidão.
Essa necessidade insana de estar inserido em um contexto ilusório, faz de si um elo dessa tão longa corrente escravagista.
Não ser verdadeiro é estar – mesmo que entre muitos – sozinho. Parece tudo tão perfeito, mas é tudo tão triste.
Era tarde da noite, quando adentrei em sua mente. Senti o frio dos medos e o calor sufocante das traições.
Pude ver a aflição de quem espera que alguém, simplesmente, estenda-lhe a mão; e pude ver o martírio de quem, há tempo, espera por um beijo.
Pude ver a decepção de muitos que esperavam por um abraço e que foram empurrados, por desprezo.
Senti o amor há muito perdido e o ódio que nasce a cada dia.
Pude ver o passado esquecido e o tedioso dia de ontem; um hoje tão fútil e um futuro incerto, leviano.
A cada canto poderia nascer um encanto, mas a cada lado, um demônio vestia-se de povo e embaralhava suas cartas nas mentes dos seus.
Ideias iracundas pichavam profecias para todo o sempre, em meio ao fado de carregar a angústia em si… e eram muito insensatas.
Chovia, lá fora, há horas… e há muito, a grande tempestade das incertezas inundara tudo o que eu sentia por si… hoje, vê-se apenas o barro dessa razão imponderada.
Milésimos de segundos podem ser eternos, quando se tenta entender a mente humana.
Há um longo percurso entre a razão e a clemência… e há um eterno abismo, onde haveria fé.
Valores pátrios e partidos nunca coexistiram para o bem comum. Um é controverso; o outro, um idealista espúrio… mas o que eu vejo ao longe é uma garrafa de vinho quebrada, um vinho caro, derramado em meio aos cacos de vidro… e vejo você, feito mosca, a lamber o chão.
Não há um só dia em que você respire o ar dos livres.
Por todo canto, vejo sangue derramado… e vejo moscas, feito gente, a lamber, no chão, as suas chagas.