GeralVia Poiesis

Não seja escravo da razão

(Por Joceane Priamo)

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Numa renomada empresa a equipe de funcionários estava passando por bastantes conflitos consequentes de divergências políticas. De um lado um grupo apoiava o governo, de outro, as críticas eram constantes. Todos queriam mostrar o quanto estavam certos, mas ninguém aceitava uma opinião diferente.


O líder da equipe notou que havia a necessidade de fazer algo para apaziguar a situação. Convocou os funcionários para uma reunião. Com uma cesta nas mãos, distribuiu pimentas malaguetas para os ouvintes e fez a seguinte pergunta:


— Quem, aqui, gosta de comida mexicana?


Algumas pessoas ergueram as mãos.


— Vocês sabiam que a pimenta faz bem para o coração? Eu gostaria que vocês provassem essa pimenta e sentisse o sabor adocicado. Quero propor que a partir de amanhã o condimento seja inserido diariamente nos cardápios da empresa.


Os participantes começaram a murmurar e cochichar entre eles até que um teve a coragem de se pronunciar:


— Onde o senhor quer chegar com essa experiência? Quer que todos nós experimentamos a pimenta sem conhecer nossos hábitos alimentares? Não pode esquecer que muitos aqui, não gostam do sabor picante, e outros, talvez, possam ser alérgicos, é praticamente impossível ter aprovação do alimento por unanimidade.


— Muito bem, Evergisto! Era nesse ponto que eu gostaria de chegar. Quando aleguei que a pimenta era boa e que vocês deveriam provar, cada um construiu um ponto de vista diferente sobre o assunto. Alguns já a tem nos seus cardápios diários, outros nunca pensaram no assunto e há também, os que simplesmente não gostam.


Isso se chama opinião. Podemos citar diversas especiarias, e sobre cada uma delas, teremos pareceres divergentes. O que não podemos esperar é que a pessoa que está ao nosso lado pense, seja e aceite da mesma maneira. Se colocarmos um objeto ao centro desse círculo e pedimos para cada participante desenhá-lo, notaremos que o objeto é o mesmo, mas será visto por ângulos variados.


Cada indivíduo é livre para formar/construir a sua própria opinião sobre diversos assuntos, muitas vezes temos dificuldades em aceitar outros posicionamentos. Transformamos assuntos genéricos em algo pessoal, onde queremos convencer a todo custo que estamos certos, mas o que ganhamos com isso?


Sócrates, um dos maiores filósofos gregos da história teve humildade suficiente para dizer só sei que nada sei. Ele foi sábio para reconhecer a sua própria ignorância, ou seja, nossas opiniões são formadas a partir de nossas crenças, consequentes da realidade que vivemos, mas jamais, são absolutas. Um mesmo acontecimento pode ser a condenação de alguém e o privilégio de outro, a tristeza e a alegria, por isso, não podemos nos tornar escravos dos nossos pensamentos, não condenar as escolhas dos outros. Se desejamos ser respeitados, também, precisamos respeitar.


Não importa se você torce para o time azul ou vermelho, se você defende as ideias de direita ou esquerda, se você é católico ou evangélico, se é homossexual ou heterossexual, se é homem ou mulher, se é feio ou bonito, se gosta de funk ou música clássica, todos, temos a liberdade para escolher, através dessa liberdade que construímos nossos valores e mostramos para o mundo quem somos.

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