ComunicaçãoGeral

O FILME DA NOSSA VIDA

 Tem gente que diz que quando a gente morre, passa o filme da nossa vida diante dos nossos olhos. Mas assim como não há nenhuma garantia disso além da fé de cada um, talvez esse seja mais um dos sentimentos a se provar ainda em vida. Eu mesmo parei para pensar no filme da minha vida. Parei para escrever sobre isso como o compositor que faz uma letra quando o coração está doendo. E, talvez ali, saia a canção mais linda da carreira.

      Na verdade mesmo, esse é um exercício ao alcance de todo mundo. Basta apenas estar vivo para o filme estar rodando. Ver o próprio filme é olhar de dentro para fora os registros que não vão se perder em um HD quebrado, um CD riscado, um pendrive perdido. A nossa memória, da mente e principalmente do coração, nada no mundo apaga.

     Apertei o play e comecei a rever todo o enredo que não pode ser organizado no tempo comum. Que não tem uma sequência lógica. Que, as vezes, não tem moral da história. As cruzes carregadas que depois percebemos que eram cuidadosamente do peso exato para suportarmos até o fim do deserto. E a vida também é deserto. As grandes conquistas e, mais do que isso, as pequenas vitórias. Os personagens que fizeram mal e que ficaram para trás. Os coadjuvantes-protagonistas de nobres corações que cruzaram nosso caminho e foram essenciais para nos fazer experimentar as sensações mais inexplicáveis que exigem apenas um pré-requisito para se ter acesso: estar vivo. E estar vivo é ganhar um ingresso para o espetáculo dos raros, dos escolhidos, dos selecionados para o elenco. 

     O filme da nossa vida não tem apenas um final surpreendente. É muito melhor do que isso. A cada cena ele pode trazer as melhores e piores surpresas. E seja quais forem, elas estarão ali registradas para sempre, para nos ensinar sem se preocupar com a audiência ou com os comentários dos críticos do Oscar. Afinal, no fim das contas, não é ficção e não tem efeitos especiais. É a vida real. É a minha história. É a tua história. E não existe remake e nem parte dois. 

     O filme já tá rodando. E, ao contrário do que se vê por aí, ele não precisa estar pronto para ser visto. Ele é ao vivo, em tempo real, é vivo como a gente e nos mostra que viver não é fácil. Mas é lindo. E é único. Ele é a nossa vida.  E a vida é para quem está vivo.