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O Incêndio no Museu Nacional

A tragédia científica e de cunho histórico, antropológico e arqueológico provocada pelo incêndio do Museu Nacional não pode ficar por isso mesmo.

O incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, ocorrido na noite e domingo, 2 de setembro, destruiu o maior patrimônio histórico e científico do Brasil. Foram mais de 20 milhões de peças (de valor incomensurável), perdidas na maior tragédia cultural do país. Foi com espanto e tristeza, que os brasileiros acompanharam pela televisão, ao vivo, as chamas consumindo os valiosos tesouros históricos do Museu Nacional, no edifício (de duzentos anos) que foi residência do monarcas brasileiros, desde D. João VI.

O Museu sofria com redução de verbas para a manutenção, e dava sinais de precariedade, com paredes descascadas, goteiras, fios elétricos expostos, etc. O fato é que havia sido aprovada uma verba do BNDES, por ocasião do bicentenário do museu, mas não foi possível começar os investimentos antes da tragédia. A falta de água foi outro fator que gravou ainda mais a situação, fazendo o fogo tomar uma proporção avassaladora.

Com duas horas de incêndio, quase todo o acervo estava danificado. Por pouco o próprio edifício histórico não foi a baixo. Os tetos de dois andares desabaram sobre o material exposto, e mesmo os que estavam guardados, não se sabe o que poderá ser recuperado dos escombros. Para especialistas que visitaram o Museu, quase tudo foi destruído.

O meteorito do Bendegó conseguiu resistir as chamas. Mas uma das peças mais procuradas é o crânio de Luzia, com 11 mil anos, o achado arqueológico mais importante do Museu. Segundo Cristiana Serejo, vice-diretora do Museu nacional, “as coleções de vertebrados, invertebrados e insetos foram preservadas do incêndio, assim como o herbário do Museu, alguns meteoritos e a Biblioteca inteira – que já havia sido realocada em um anexo”.

Até gora, é impossível mensurar o que poderá ser recuperado, mas mais de 90% de todo o acervo foi reduzido a pó. Foi a maior perda histórica e científica do país, que expôs a situação de descaso em que vivem nossas instituições de preservação da memória cultural e pesquisa. Sabemos que nos últimos dez anos, outros museus e centros de pesquisa sofreram danos com incêndios.

Precisamos pressionar os governos por uma política de proteção aos nossos museus, porque não há futuro próspero quando não se preserva o passado. Esperamos também que os recursos liberados pelo governo federal, possam recuperar o Palácio São Cristóvão, e viabilizar não apenas a recuperação do que puder ser salvo, mas assegurar, daqui para frente que nunca mais se repita uma tragédia como esta.

Daí a importância em se investir na preservação. Uma pergunta intrigante: a Reitoria da UFRJ e os gestores diretos do Museu, que está sob a guarda da referida Universidade, não tem responsabilidade alguma pelo ocorrido? Atenção: este é um país em que as autoridades normalmente terceirizam responsabilidades.

Valmor Bolan

Valmor Bolan é Doutor em Sociologia. Professor da Unisa. Ex-reitor e Dirigente (hoje membro honorário) do Conselho de Reitores das  Universidades Brasileiras. Pós-graduado (em Gestão Universitária pela OUI-Organização Universitária Interamericana) com sede em Montreal-Canadá.