Religiões

O manto de Elias!

Agosto é o mês dedicado às vocações. No 1º Livro dos Reis encontramos uma cena emocionante. O profeta Elias encontrou-se com Elizeu, lavrador. Ao passar perto de Eliseu, lançou sobre o seu manto. Entre umas e outras atividades, Eliseu decidiu-se seguir Elias e pôs-se ao seu serviço (cf. 1Rs 19,19-21). Eliseu é escolhido por Deus para assumir a missão do profeta Elias. Deixa sua família, suas posses e coloca-se inteiramente a serviço do povo eleito. O manto significa a dignidade da profecia. Alguém deve continuar a missão. Elias escolhe pessoalmente ao seu sucessor na profecia da Palavra. É uma escolha do profeta. Passar o manto é uma forma de responsabilizar outros a fim de que a boa notícia não seja interrompida por falta de obreiros. Gesto nobre e de confiança expressa pelo profeta Elias. Elizeu entendeu que deve deixar o cuidado das coisas agrícolas para dedicar-se ao povo eleito, o povo escolhido, o povo da Aliança. Agora a missão é sua.

Para o povo de Israel, segundo os relatos bíblicos, a túnica e manto são as duas peças do vestuário normal. O pobre dispõe só de um manto, que lhe serve como roupa de cama. “Tu o devolverás ao pôr-do-sol, e assim ele se deitará sobre o seu manto” (cf. Dt 24,13): retê-lo seria uma crueldade inaceitável. Logo o manto de um pobre jamais pode ser pego em penhor. É seu vestuário de vida e dignidade, sua proteção, nalguns casos, a única!

Elias e Eliseu, assim como Moisés, estão entre os eleitos para manter a aliança com Deus com seu povo. No 2º Livro dos Reis outras duas cenas impressionantes com estes homens e seus mantos. Elias, antes de ser arrebato ao céu, tomou então o seu manto, enrolou-o e bateu com ele nas águas, que se dividiram para os dois lados, de modo que ambos passaram a pé enxuto o rio Jordão (cf. 2Rs 2,8). Quando Eliseu ficou só, meio que no desespero pela partida ao céu de Elias, tendo as vestes do profeta, agora seu continuador, rasgou-as em duas peças. Depois tomou o manto que Elias tinha deixado cair e, voltando sobre seus passos, estacou à margem do Jordão.  Tomou então o manto de Elias e bateu com ele nas águas dizendo: “Onde está agora, ó Deus de Elias?”. E bateu nas águas, que se dividiram para os dois lados, e Eliseu atravessou o rio (cf. 2Rs 2,13-14).

O manto, em vez da vara milagrosa, é instrumento do poder taumatúrgico do profeta Eliseu. Assim que depois de um rito de luto, recolhe o manto de seu mestre Elias; ao recolhê-lo, recebe a herança e fica “investido” da sua missão. É seu sucessor escolhido. As roupas, no caso aqui o manto, são uma extensão da pessoa; Eliseu está, portanto, assumindo aqui a identidade de Elias. Vamos recordar cenas parecidas quanto à divisão das águas. O mar Vermelho foi dividido pelo vento, o Jordão o foi pela arca, agora se divide pelo manto do profeta. São as ações de Deus através de seus profetas. Agora começa o tempo de Eliseu, seu ciclo profético em favor do povo de Israel, onde Deus constitui-o como o “seu povo”. Assim que a missão dos profetas é garantir a continuidade da aliança de Deus com seu povo eleito.

Apenas um manto!

O cego de Jericó (cf. Mc 10,46-52) está sentado à beira da estrada. Não pode participar da peregrinação que acompanha Jesus. Mas ele grita, invocando a ajuda de Jesus: “Filho de Davi! Tem compaixão de mim!” Os que acompanham Jesus tentam intimidá-lo. Mas “ele gritava mais ainda!” E Jesus, o que faz? Ele escuta o grito, para e manda chamá-lo! Bartimeu larga tudo e vai até Jesus. Não tem muito. Apenas um manto, sua vestimenta, que tinha para cobrir o seu corpo, mas, provavelmente, era o pano que Bartimeu estendia para receber suas esmolas. Jesus curou o pobre e cego. Devolveu-lhe a dignidade. Tornou-se seu seguidor. Somos convidados a jogar nossos mantos da justiça e da misericórdia sobre todos os sofredores do nosso tempo, sobremaneira, nestes dias de inverno. E são muitos. Esta é nossa missão. Prolonguemos, pois, os gestos de proteção de Jesus em nossos ambientes diocesanos.

Dom Edgar Ertl

DOM EDGAR ERTL Bispo Diocesano