O USO ELEITORAL DA RELIGIÃO
O CRISTO DO EVANGELHO É O GRANDE ESQUECIDO PELAS PRÁTICAS QUE TORNAM AS ELEIÇÕES UMA GUERRA SUJA.
O uso eleitoral da religião, seja por candidatos à direita ou à esquerda, se acentuou nesta campanha presidencial, com abusos. A recorrência à fé esvaziou o debate em torno de propostas dos candidatos, que ficaram discutindo nas redes sociais posicionamentos sobre moral e costume. Esta não tem sido uma tendência somente nas eleições brasileiras. Recentemente na Itália, e em outros países, até mesmo nas eleições norte-americanas de 2020, esse foi também o tom. É preciso que se compreenda o fenômeno. Por que os políticos estão deixando de lado a discussão sobre planos de governo, trazendo ao centro do debate questões religiosas?
O Bispo de Campos, Dom Roberto Francisco Ferreira Paz, rechaçou em mensagem dirigida aos fiéis, o uso eleitoral da religião, ressaltando que “não compete a líderes religiosos atitudes contrárias à liberdade dos fiéis na escolha dos candidatos nas eleições presidenciais de 30 de outubro”. E acrescentou:
“Percebe-se, em certos ministros religiosos (pastores e padres), um comportamento próximo do abuso espiritual e da intimidação, ameaçando com a maldição do inferno ou até excomunhão aos eleitores que votarem no candidato contrário ao que eles defendem, como única alternativa. Esquece-se que a missão de um líder espiritual é formar consciências, não substituí-las, segundo Amadeo Cencini; iluminar e chamar à reflexão; não determinar, coagir e direcionar o voto, cerceando-se gravemente a liberdade de expressão e o direito ao voto”. O uso eleitoral da religião é uma forma de abuso, pode também caracterizar por um tipo de assédio eleitoral, em que se apela para argumentos, muitas vezes, sem racionalidade e até um certo fanatismo. Por isso é preciso estarmos atentos para evitar tais abusos. E concluiu Dom Roberto Francisco Ferreira Paz, em sua mensagem: “O Cristo do Evangelho é o grande esquecido e desconhecido por estas práticas que tornam as eleições uma guerra suja, na qual, o único que importa é ganhar; passando por cima do respeito, do amor incondicional, da justiça, legalidade, verdade; e todos os valores do Reino que o Salvador veio testemunhar para guiar a humanidade a dignidade da filiação divina e da reconciliação. Resgatemos a política como a arte e a ciência do bem comum, da mais alta forma de exercer a caridade, e testemunhar, de modo inequívoco, o serviço e o amor incondicional a todas as pessoas. Deus seja louvado!”
Esperamos que prevaleça o bom senso e que as autoridades da Justiça Eleitoral também estejam atentas quanto a isso, procurando evitar que os cidadãos sejam coibidos por apelos que extrapolam os objetivos de uma campanha política, que deve tratar daquilo que deve propiciar melhorias na vida da população. Nesse sentido, o uso eleitoral da religião deve ser pontual, contextualizado e sem os excessos que temos vistos na atual campanha presidencial, de ambos os lados. Conscientes disso é que estaremos contribuindo para o amadurecimento do exercício da cidadania, num regime democrático.