Psicologia

Obesidade e a importância do trabalho interdisciplinar

A obesidade atinge cerca de um terço da população mundial e por isso é chamada de “epidemia” do terceiro milênio. No Brasil, 36% da população é obesa ou está acima do peso, segundo o IBGE. Esses dados são alarmantes porque a obesidade está associada com várias doenças, como o diabetes, a hipertensão arterial, doenças cardiovasculares (que levam, por exemplo, a derrame cerebral), lesões articulares e maior risco de certos tipos de câncer.

A obesidade é um problema médico sério e não tem nada a ver com estética. Suas causas são múltiplas, envolvendo fatores genéticos, metabólicos, comportamentais, culturais e sociais. Infelizmente a obesidade costuma ser tratada de forma inadequada porque vem sendo, há muito tempo, entendida como resultado de distúrbios psicológicos ou problemas morais.

O obeso vem sendo visto pelas pessoas como “uma pessoa de baixa auto-estima, com limitações intelectuais, com mau funcionamento mental (é muito ansioso: come para descontar a angústia, troca o afeto por comida, em vez de ter uma vida sexual adequada, sublima seus desejos através da comida), covarde e egoísta”. Pensava-se também que haveria uma personalidade típica dos obesos ou que eles não teriam personalidade, ou ainda, que seriam preguiçosos. Mas isso não é verdade.

Todas essas idéias não têm a menor base científica e contribuem para o grande estigma social que traz estresse e sofrimento aos obesos, comprometendo sua qualidade de vida.

Em uma pesquisa realizada nos EUA, 16% dos empregadores disseram que não contratariam mulheres obesas. Os candidatos obesos de ambos os sexos são descritos como “menos competentes, menos produtivos, desorganizados, indecisos e inativos.” Além disso, os obesos recebem salários menores que não obesos nos mesmos cargos.

Mesmo entre crianças, o preconceito contra a obesidade é marcante, e as crianças obesas são segregadas pelas demais. Em outro estudo norte-americano foram mostradas para várias crianças fotografias de uma criança obesa e de outras crianças com problemas físicos e deformidades. Pediu-se, então, que apontassem qual das fotos a mais difícil de se gostar e qual criança que não queriam ter como amiga. A mais escolhida foi a foto da criança obesa. A explicação dada pela maioria do grupo foi que enquanto as demais crianças eram vítimas de um infortúnio, a obesa era responsável por seu próprio problema. Logo era alguém com atributos negativos. Pesquisas semelhantes realizadas com adultos obtiveram resultados semelhantes.

Não é difícil, portanto, entender que os problemas que os obesos enfrentam no dia a dia, podem levar ao aparecimento de sintomas ansiosos e depressivos. A presença de distúrbios emocionais não é necessária para o aparecimento da obesidade, mas a obesidade pode desencadear estes. Os obesos não são pessoas mais complicadas ou comprometidas que as demais. Pessoas obesas que estão em tratamento apresentam mais sintomas depressivos, ansiosos e de transtornos alimentares. Quanto mais grave a obesidade, maiores os níveis de psicopatologia. Ou seja, a obesidade é a causa dos transtornos psicológicos e psiquiátricos e não a conseqüência dos mesmos.

A presença de problemas psicológicos decorrentes da obesidade pode influenciar de forma negativa no resultado dos tratamentos para redução de peso. Por isso, é fundamental que eles sejam diagnosticados e tratados de forma responsável e séria por profissionais capacitados (psiquiatras e psicólogos).

Dentre os distúrbios psíquicos relacionados à alimentação, o mais freqüente entre obesos é o transtorno do comer compulsivo, também chamado Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP). Está provado que mais que 30% dos indivíduos que buscam tratamento para obesidade têm TCAP; alguns trabalhos chegaram a encontrar taxas de 50%. Cabe ressaltar que 95% dos indivíduos com TCAP também têm depressão(1). Um outro padrão alimentar alterado igualmente freqüente em pacientes obesos é a Síndrome do Comer Noturno que se caracteriza por hiperfagia (isto é, exagero alimentar) noturna, insônia e anorexia matinal.

Fica clara, assim, a importância da psiquiatria e da psicologia na luta contra a obesidade.

Não se deixe enganar: tratamentos mágicos, que não consideram estes aspectos, não podem ter sucesso. Indivíduos obesos que já tentaram inúmeros tratamentos podem ser tentados a experimentar dietas, medicamentos ou preparações que alegam promover perda de peso rápida e de grande monta. Com isso caem em mãos de pessoas ou empresas antiéticas e vão perder tempo, dinheiro e o que é pior, a esperança de melhorar. O tratamento bem-sucedido da obesidade, além de envolver o manejo das questões clínicas, nutricionais e de atividade física, tem que passar, necessariamente, pela abordagem psicológica.

Destaco que não se pretende discutir questões estéticas envolvidas, mas de saúde.

A “fome emocional, ou psicológica, é aquela que não tem ligação com a sustentação da vida. Implica em comer “apenas por que a comida está lá”; “porque alguém se preocupou em prepará-la”; “porque paguei pela comida”, “porque tenho pena de jogar fora”; “porque me sinto ansioso”; “porque estou triste, frustrado, feliz, etc…”. Por fim, a fome emocional é a que nos faz comer mais e mais, apesar de já estarmos satisfeitos ou até passando mal. É ela que nos faz engordar.”

O trabalho de emagrecimento precisa centra-se na busca de formas adequadas para lidar com os problemas do dia a dia, colocando cada um em seu lugar, com sua devida importância, tempo para lidar com ele e consciência que nem sempre damos conta de tudo que gostaríamos. Existem no mercado diversos profissionais capazes de auxiliar nesta busca.

Francieli Franzoni Melati

Francieli Franzoni Melati Psicóloga – CRP 08/9543 Francisco Beltrão - PR