Assessoria

Os caça-cliques

Um dos maiores privilégios que a leitura, o conhecimento e a absorção nos trazem é a possibilidade da descoberta de novos viés de assuntos que, as vezes, viram paisagem aos nossos olhos desatentos do dia a dia.

                A evolução da comunicação trilhou seu caminho no ritmo das revoluções do mundo moderno, melhorando em alguns aspectos, piorando em outros, aprendendo, tropeçando, caindo, levantando, resistindo, se adaptando e, principalmente, se reinventando. 

                O romantismo do jornalismo talvez seja o sentimento mais resistente a todas as mudanças, afinal muitos ainda fazem por amor a camisa, independente de retornos financeiros ou da medição de audiência. Ah… mas o mundo gira. E muda.

                Lendo um livro sensacional chamado “O mundo que não pensa” – que inclusive foi escrito por um jornalista, Franklin Foer – abri os olhos e me dei conta sobre alguns novos formatos de geração de conteúdo que se preocupam cada vez menos com a qualidade e geram paranoia total acerca da quantidade (de cliques e visualizações). 

                Tudo isso, obviamente, começou a fazer sentido com a digitalização da coisa. Ou seja, quando o jornalismo – assim como praticamente todas as outras vertentes da comunicação – foram migrando do tradicional para o virtual. As fronteiras se expandiram de uma maneira infinita. Afinal, se antes os superpoderosos editores precisavam filtrar ao máximo o que seria ou não publicado – não apenas por uma questão editorial, mas pelo espaço físico também – com a chegada dos portais e blogs, a linha do horizonte se perdeu de vista. 

                Porém, junto com tudo isso e com a evolução totalmente positiva do meio, vieram, é claro, as mudanças não tão agradáveis – pelo menos para quem preza pela essência do trabalho ao invés da busca cega e incansável pelos cliques. 

                Alguns dos gigantes que hoje dominam a internet, como o BuzzFeed, por exemplo, descobriram que o sucesso jornalístico poderia ser arquitetado. Ou seja, bastava prestar atenção nos dados e nos assuntos do momento para se criar matérias que falassem o que as pessoas querem ouvir, independente de veracidade, qualidade editorial ou qualquer outra norma que até então existia. 

                E deu certo. Pelo menos pensando por essa linha. Afinal, até mesmo veículos históricos como o Washington Post aderiram a ideia, inclusive contratando gurus de dados para ficarem atentos a todos os assuntos que começavam a ter uma curva ascendente nas redes sociais. Ali poderia estar a chave para gerar maior interesse, mais acessos, melhores resultados e, consequentemente, mais brilho nos olhos de quem investe no veículo e mantém suas receitas. 

                Ah! E tem mais: em meio a esse novo universo, surgiram empresas  e plataformas especializadas em criar virais, pegando um assunto absolutamente comum e dando um toque especial, seja na abordagem ou simplesmente na manchete da publicação – um artifício muito antigo, mas que foi reinventado para outros fins, bem mais específicos e vorazes. 

                Novos tempos, novas visões. O lado triste fica, é claro, por conta dos episódios de sensacionalismo puro e barato, que busca o acesso a qualquer custo. Sejamos bem-vindos ao duro mundo da selva da sobrevivência no mercado.