OS DESAFIOS DA ECONOMIA GLOBAL
*Prof. Dr. Valmor Bolan
O papa Francisco fez um discurso, em 16 de outubro, aos movimentos populares, falando sobre a situação global da economia, buscando refletir sobre os desafios atuais, e propondo iniciativas que visem mitigar as injustiças sociais de um sistema ainda movido somente pela lógica do individualismo e do lucro. Defendeu uma renda básica universal aos mais vulneráveis e a redução da jornada de trabalho, procurando valorizar o sentido do trabalho, em vez do emprego. É preciso que as pessoas sejam valorizadas pelo que fazem, com criatividade e responsabilidade, que não se acomodem apenas a um emprego, que não permita que cada um dê o melhor de si.
Para José Roque Junges, autor do livro “Bioética Sanitarista: desafios éticos da Saúde Coletiva”, o papa destacou dois aspectos importantes em seu discurso aos movimentos populares: “1) A economia que conhecemos capitalista, nos está levando a um abismo social, porque é uma economia que considera uma grande maioria da população como descartável porque está fundada no mercado. Assim, só há interesse em quem participa dos mercados e todas as outras pessoas são descartáveis, o que, evidentemente, leva à tragédia social que estamos vivendo. E, no caso do Brasil, essa tragédia ainda está sendo aumentada com a fome. Nos últimos 50 anos, nunca tivemos tanta fome no país como agora e isso vem de uma economia que está fundada nesse descarte de uma maioria da população que não interessa. 2) O outro sentido, o outro abismo a que somos levados, é o ambiental e ecológico, porque a economia que conhecemos não leva em consideração os limites que a natureza coloca. Isso porque reduziu a natureza a recursos naturais e nunca consegue conceber a natureza como um fundo que nos oferece as condições para a vida. Por isso, temos todas essas questões da crise ambiental e toda mudança climática que estamos vivendo, uma outra tragédia que se acresce à tragédia social”. Assim o papa tem se expressado, buscando uma alternativa que permita um sistema econômico global mais justo, inclusivo e solidário. Nesse sentido, muitos debates vêm ocorrendo, em eventos apropriados, com especialistas de diversas áreas, para buscar o consenso a essa nova economia global, necessária para os ajustes para que um maior número de pessoas possam ter oportunidades e prosperidade.
O papa Francisco tem contribuído para esse debate, procurando fazer a inclusão dos mais pobres numa economia mais solidária. As profundas mudanças sociais que estamos vivendo atualmente, certamente irão favorecer a esse modelo de economia inclusiva defendida pelo papa. Cesar Sanson, comentando o pensamento do papa a respeito dessa questão, destaca: “Bem mais certeiro, porém, é quando sugere iniciativas ao menos para mitigar o desastre da destruição da sociedade do trabalho como o “salário universal” e a “redução do horário de trabalho”. Aqui o papa se coloca na vanguarda do debate mundial, se mostra mais à esquerda que parte considerável do movimento operário-sindical e dos partidos progressistas. O papa avançou nesse debate. Em 2015, num encontro com operários de uma grande siderúrgica em Gênova, afirmava que apenas o trabalho importa. Agora, ele reconhece que o capitalismo, em função até mesmo da evolução das forças produtivas, exauriu a possibilidade de que todos tenham um emprego”. Esperamos o aprofundamento desse debate, para que mais propostas contribuam para que alcancemos um sistema econômico mundial, mais humano, justo e solidário.
Valmor Bolan é Doutor em Sociologia. Professor da Unisa. Ex-reitor e Dirigente (hoje membro honorário) do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras. Pós-graduado (em Gestão Universitária pela OUI-Organização Universitária Interamericana) com sede em Montreal-Canadá.