TRADITIONIS CUSTODES
*Prof. Dr. Valmor Bolan
O papa Francisco publicou, em 16 de julho de 2021, a Carta Apostólica em forma de Motu Proprio TRADITIONIS CUSTODES (Guardiães da Tradição), causando questionamentos por parte da ala mais conservadora da Igreja, por restringir as celebrações das missas do Rito Romano, conhecidas por Missas Tridentinas. Os tradicionalistas entraram em polvorosa, criticando o documento. O Fratres in Unum afirmou que o papa quer exercer, com o Motu Próprio, “uma fiscalização sobre as Dioceses e sobre os padres que celebram segundo a outrora ‘forma extraordinária’ do Rito Romano, de modo a ter o controle total sobre quem celebra, onde celebra, quando celebra, a fim de impedir a “proliferação do catolicismo tradicional”. E acrescenta: ”os golpes desferidos contra a Missa Tradicional (em Latim) só a farão crescer, inclusive entre os padres novos, ainda que de maneira escondida, ainda que na clandestinidade”. Se a geração anterior nunca tinha visto uma missa tradicional e conseguiu resgatá-la, quanto mais agora… Ninguém detém o braço de Deus!”
Dom Fernando Rifan, bispo tradicionalista saiu em defesa do papa, explicando que “Francisco decidiu impor restrições à celebração de missas em latim, alegando que a reforma de Bento XVI se tornou uma fonte de divisão na Igreja. Isto estaria sendo explorado pelos católicos que se opunham ao Concílio Vaticano II, à modernização da Igreja e de sua liturgia iniciada em 1960”. E acrescentou: ““ Claro que nós católicos acatamos a orientação do Papa Francisco. Mas, nós salientamos o seguinte: esta intervenção do Papa foi provocada pelos abusos de muitos chamados tradicionalistas que não observaram aquilo que o Papa Bento XVI queria, que é a forma de missa como comunhão da Igreja. Começaram a usar a forma da missa antiga para atacar o Papa, o Concílio, mas isso não é a maioria, nem são os mais importantes. Porém, são os que mais gritam e aparecem nas redes sociais, pois é muito maior o numero de fiéis que aderem à forma antiga, como nós da Administração em Campos, por razões corretas. Não a instrumentalizam, não negam a ortodoxia e o valor do Concílio Vaticano II, nem a reforma litúrgica da missa de Paulo VI, nada disso. “Por isto, os justos não poderiam pagar pelos pecadores, é o que vai acontecer”. O tom conciliatório de Dom Rifan não foi o que prevaleceu. Pelas redes sociais, vários grupos católicos conservadores atacaram, dizendo que o papa Francisco está agindo para minar a forma antiga da Missa, aceita por muitos jovens.
Desde quando Bento XVI publicou o Summorum Pontificum, em 2007, houve uma crescente adesão à Missa do Rito Romano, celebrada em latim, com o sacerdote celebrando de costas para o povo, etc. O fato é que desde a renúncia de Bento XVI, em 2013, vem crescendo as críticas ao papa Francisco, dentro da Igreja, que, inclusive, não aceitam medidas impostas pela pandemia e acatadas por padres e bispos do mundo inteiro. Mas a Igreja sabe do risco de uma guerra intestina no seio da Igreja, entre tradicionalistas e progressistas. Bispos e cardeais estão sintonizados com o papa Francisco, acatando as suas decisões. Mas há vozes discordantes. Mudanças sempre criam algumas inconformidades. Os católicos precisam estar atentos aos acontecimentos e, em oração buscar, na prática, seguir a Carta Apostólica em forma de Motu Proprio Traditionis Custodes e entender que o objetivo do Papa Francisco e’ salvaguardar a unidade da Igreja.
Valmor Bolan é Doutor em Sociologia. Professor da Unisa. Ex-reitor e Dirigente (hoje membro honorário) do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras. Pós-graduado (em Gestão Universitária pela OUI-Organização Universitária Interamericana) com sede em Montreal-Canadá.