Os quatros sonhos de São José
Dom Edgar Ertl –
Diocese de Palmas-Francisco Beltrão
No dia 8 de dezembro de 2020, teve início o Ano especial dedicado a São José, por ocasião do 150º aniversário da declaração dele como Padroeiro da Igreja universal. O papa Francisco disse que o objetivo deste ano especial era de “aumentar o amor por este grande Santo”. Trata-se realmente duma figura extraordinária e, ao mesmo tempo, “tão próxima da condição humana de cada um de nós”. São José não sobressaía, não estava dotado de particulares carismas, não se apresentava especial aos olhos de quem se cruzava com ele. Não era famoso, nem se fazia notar: dele, os Evangelhos não transcrevem uma palavra sequer. Contudo, através da sua vida normal, realizou algo de extraordinário aos olhos de Deus.
Os Evangelhos falam de quatro sonhos. Eles são revelações fidedignas do Senhor a José, seu servo. O Evangelista Mateus apresenta-nos com detalhes. Vamos vê-los: 1. No anúncio do anjo: “Já tinha decidido [repudiar Maria], quando um anjo do Senhor lhe apareceu em sonho…” (Mt 1,20); 2. Na fuga para o Egito: “Depois que partiram, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e lhe disse: Levante-te, pega o menino e a mãe e foge para o Egito…” (Mt 2,13); 3. Retorno para Israel: “O anjo do Senhor apareceu em sonhos a José no Egito…. levanta-te, toma o menino e a mãe e dirige-te para Israel…” (Mt 2,19); 4. José muda de direção, advertido pelo anjo: “Avisado em sonhos, partiu para a província da Galileia e foi morar num povoado chamado Nazaré” (Mt 2,22).
Apesar de serem chamadas divinas, não eram fáceis de acolher. Depois de cada um dos sonhos, José teve de alterar os seus planos e entrar em jogo para executar os misteriosos projetos de Deus, sacrificando os próprios. Confiou plenamente. Todavia São José deixou-se guiar decididamente pelos sonhos. Por quê? Porque o seu coração estava orientado para Deus, estava já predisposto para Ele. Para o seu vigilante “ouvido interior” era suficiente um pequeno sinal para reconhecer a voz divina.
Na realidade, os sonhos introduziram José em aventuras que nunca teria imaginado. O primeiro perturbou o seu noivado, mas tornou-o pai do Messias; o segundo fê-lo fugir para o Egito, mas salvou a vida da sua família. Depois do terceiro, que ordenava o regresso à pátria, vem o quarto que o levou a mudar os planos, fazendo-o seguir para Nazaré, onde precisamente Jesus havia de começar o anúncio do Reino de Deus. Por conseguinte, em todos estes transtornos, revelou-se vitoriosa a coragem de seguir a vontade de Deus. Neste sentido, São José constitui um ícone exemplar do acolhimento dos projetos de Deus. Trata-se, porém, de um acolhimento ativo, nunca de abdicação nem capitulação; ele “não é um homem resignado passivamente”. Que ele ajude a todos, sobretudo aos jovens em discernimento, a realizar os sonhos que Deus tem para cada um; inspire a corajosa intrepidez de dizer “sim” ao Senhor, que sempre surpreende e nunca desilude!
“Homem justo”!
Francisco preconiza São José como o “homem justo” (Mt 1,19) que, no trabalho silencioso de cada dia, persevera na adesão a Deus e aos seus desígnios. Num momento particularmente difícil, detém-se “a pensar” em tudo (cf. Mt 1,20). Medita, pondera: não se deixa dominar pela pressa, não cede à tentação de tomar decisões precipitadas, não segue o instinto nem se cinge àquele instante. Tudo repassa com paciência. Sabe que a existência se constrói apenas sobre uma contínua adesão às grandes opções. Isso corresponde à laboriosidade calma e constante com que desempenhou a profissão humilde de carpinteiro (cf. Mt 13,55). Que os quatro sonhos de São José nos inspirem a prestarmos atenção ao que Deus nos pede a cada dia! Elevemos uma prece, pela intercessão de São José, aos nossos pais, festejados neste domingo, 8 de agosto, e o início da Semana Nacional da Família.