PAPO “DE MULHER PARA MULHER!”
(Uma crônica de Cleusa Piovesan)
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Diante da tragédia que ceifou, prematuramente, a vida de Marília Mendonça, refleti sobre o importante papel dessa artista no contexto nacional da música sertaneja, dominado pelas vozes masculinas e com letras que, muitas vezes, transformam a mulher e apenas um “objeto” de desejo. Marília transformou as letras das canções sertanejas em hinos de empoderamento a mulheres que são traídas ou sofrem violência por parte de seus parceiros e “dão a volta por cima”, sem “chororô”, desconstruindo o conceito de “sofrência” extrema e da dor da perda do amor!
O ato de “empoderar” significa dar ou conceder poder para uma pessoa ou um grupo, e acontece quando há a conscientização das mulheres e dos homens (que detêm a maior parte deles) de reivindicarem por seus direitos, garantindo que possam estar cientes da luta pela total igualdade entre os gêneros em diversos cenários sociais, por isso, uma mulher ser respeitada e valorizada como ser humano nunca será privilégio, apenas direito!
Refleti também sobre tantas outras mulheres que emprestaram suas vozes e seus ideais, para que as mulheres conquistassem seus direitos civis, e percebi que, como poeta/escritora, minha voz também pode se projetar em busca de maior representatividade feminina na sociedade. E eis a crônica que compus!
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PAPO “DE MULHER PARA MULHER!”
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Ontem eu morri e, em meu estado de limbo… ops, o papa Bento XVI aboliu o limbo! Bem, não sei onde estava, mas encontrei a Marília Mendonça! Ela disse:
– Volta, nega! Eu fiz a minha parte, mas você ainda tem muita coisa a dizer!
Num átimo de iluminismo cerebral, percebi que isso é verdade.
Minha voz é uma bandeira pela luta feminista, assim como a voz dela desconstruiu, em pequenas doses, o machismo na música sertaneja. Empoderou as mulheres, mostrando-lhes o viés dos relacionamentos abusivos e tóxicos. Marília é a voz que ecoará na mente de muitas mulheres que vivem sob a submissão do poder patriarcal. É voz de libertação!
Minha poesia também vai ecoar, mesmo depois de eu morrer (biologicamente), nas mentes de mulheres que, evoluídas, empoderam-se e vivem e liberdade de credos, de ideologias alienantes e de sexualidade reprimida!
Abaixo o poder do “macho alfa” que, para ser macho mesmo, tem de aprender a respeitar e a valorizar uma mulher pelo que ela é, e não pelos estereótipos que carimbaram nela!
Então, não sei se por obra divina ou por teimosia mesmo, estou aqui, ressuscitando meus preceitos feministas, de sujeito social não alienado, rouca por estar há uma semana sem voz, gritando com palavras que despertem essa mulherada que ainda não descobriu que “não se nasce mulher; torna-se!”.
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