Primeira Encíclica Social
No dia 15 de maio de 1891, o Papa Leão XIII (1878-1903) publicou a primeira Encíclica Social da Igreja Católica a Rerum Novarum” = “coisas novas”, que surgiu no contexto da Revolução Industrial. São 127 anos que a Igreja sistematizou o que mais tarde convencionou-se chamar de Doutrina Social da Igreja. Entende-se por “Doutrina Social da Igreja” o conjunto ou “corpus” de ensinamentos que a Igreja possui sobre os problemas de ordem social através de cartas, pronunciamentos, encíclicas e outros documentos.
O que queremos dizer que não há uniformidade na denominação ou nome que se dá ao corpo de doutrina social da Igreja. Leão XIII fala de “doutrinas” tiradas do Evangelho pela Igreja, e de “filosofia cristã”; Pio XI fala de “Filosofia social” e de “Doutrina em matéria social e econômica”; Pio XII faz uso explícito das expressões “Doutrina social da Igreja” ou doutrina social católica; João XXIII também fala de “doutrina social”; Paulo VI preferiu sempre falar de “Ensinamento Social”, ou “Ensinamentos sociais da Igreja”. São João Paulo II também usa a expressão “Doutrina Social da Igreja”.
A doutrina Social da Igreja objetiva ainda dar sustento e animar a ação dos cristãos em campo social, especialmente os fiéis leigos, dos quais este âmbito lhe é próprio; toda a sua vida deve qualificar-se como uma fecunda obra evangelizadora, e deve fazê-la em nome de nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Lc 5,5).
Interessante também definirmos o que é uma “Encíclica”. Algo circular. Já no sentido religioso é uma Carta circular pontifícia. Este tipo de documento, de caráter oficial, tem alcance universal, normalmente em razão tanto de seu conteúdo como de seus destinatários. São os problemas sociais, políticos e econômicos que constituem o objeto preferencial das encíclicas pontificais, que fazem parte do magistério ordinário da Igreja. O primeiro documento que leva o título de encíclica é a Viz pervenit, de Bento XIV, em 1745, sobre os empréstimos a juros.
O teólogo Ildefonso Camacho diz que o papa Leão XIII é a “figura representativa da Doutrina Social da Igreja e este documento passou para a posteridade como referência desta doutrina social. De fato, decorrido mais de um século da data da sua publicação, são contínuas as referências feitas a ela: além do mais, a encíclica em questão é sempre considerada como um documento que assinala um marco na história. No entanto, essa data tem um valor apenas indicativo (…). Por isso, mais do que fixar o começo em um ano concreto ou um documento determinado, parece-nos preferível considerar Leão XIII, forma geral, como o iniciador da Doutrina Social da Igreja (Doutrina Social da Igreja. São Paulo: Loyola, 1995. p. 11-12).
O Compêndio da Doutrina Social descreve o objetivo principal das Encíclicas Sociais: “Transformar a realidade social com a força do Evangelho, testemunhada por mulheres e homens fiéis a Jesus Cristo, sempre foi um desafio e, e no início do terceiro milênio da era cristã, ainda o é. O anúncio de Jesus Cristo, ‘boa-nova’ de salvação, de amor, de justiça e de paz, não é facilmente acolhido no mundo de hoje, ainda devastado por guerras, misérias e injustiças; justamente por isso o homem do nosso tempo mais do que nunca necessita do Evangelho: da fé que salva, da esperança que ilumina, da caridade que ama” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2005. p. 13).
São João Paulo II, para comemorar os 90 anos da Rerum Novarum (1991) escreveu a Encíclica Laborem Exercens sobre o trabalho humano afirmando que “a doutrina social da Igreja, efetivamente, tem sua fonte na Sagrada Escritura, a começar do Livro do Gênesis e, em particular, no Evangelho e nos escritos dos tempos apostólicos. Dedicar atenção aos problemas sociais faz parte desde o início do Ensino Social da Igreja e da sua concepção do homem e da vida social e, especialmente, da moral social que foi sendo elaborada segundo as necessidades das diversas épocas” (n. 3).