Propaganda boa vira meme
Dando início aos trabalhos de 2022, nada melhor do que falar de publicidade brasileira e sua relação com os brasileiros. Aliás, a criatividade da massa brasilis é algo que merece uma tese de doutorado há muito tempo.
Voltando um pouquinho, no finalzinho de 2021 – também conhecido como “semana passada” – podemos lembrar uma campanha linda (mais uma) que o banco Itaú levou ao ar para se despedir e deixar uma mensagem ao ano que estava terminando e também ao que chegava.
A peça foi estrelada por uma das mentes mais geniais da história da dramaturgia mundial, Fernanda Montenegro, e também pela bebê Alice, prodígio por pronunciar palavras difíceis mesmo com tão pouca idade. De cara, um recorde de mais de 4,5 milhões de visualizações, de forma orgânica, em três dias.
O texto, a mensagem, o contexto e o roteiro – apesar de tão simples (e aí está o segredo da coisa) – já nem são novidades nas criações da agência África para o Itaú. O clima leve e divertido entre a atriz de 92 anos e a bebê de apenas 2 trouxe uma ideia que deu peso ao outro lado dessa dura gangorra que andamos brincando nos últimos anos. Mas acho que, muito mais do que isso, o diferencial ficou por conta do aspecto “além-tela” da campanha. Ou seja, a repercussão e o impacto positivo que causou muito adiante da ideia original.
Conversando com o professor Everton, que me deu aula na faculdade de comunicação e hoje se tornou um grande (sem trocadilhos) e querido amigo-conselheiro, colocamos em pauta essa campanha. Os elogios já eram previstos, mas uma frase dita por ele ficou na minha memória: “Antigamente, propaganda boa virava bordão. Hoje, vira meme”. E, realmente, acredito que quase todo mundo pôde observar quantos memes de fim de ano rodaram por aí nas redes sociais e grupos de WhatsApp. Todos eles se baseavam – com um certo tom de sátira leve – nas falas com palavras positivas pronunciadas pela Alice: “rexaca” (sobre o clima após as festas de réveillon) ou “desespelo” (sobre a fatura do cartão de crédito em janeiro).
Independente da gracinha dos memes, o fator que realmente mais pesa nessa história toda é o seu poder de viralizar. Só entendia e, consequentemente, relacionava a piada quem via o filme do Itaú. Assim, de forma ainda mais orgânica e, potencialmente expontânea, o conteúdo da campanha chegou para um público ainda maior e com uma abordagem absolutamente envolvente. Sejamos bem-vindos aos novos tempos da relação intermidia com mais esse “case” de sucesso que, assim como muitos outros do passado, com certeza será inesquecível e imortalizado através dos efeitos que causou.