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Sudoeste recebe a Cantata Revolta dos Posseiros edição 2023

Felipe Radicetti, autor da obra musical, comenta a elaboração deste trabalho.

Por Leandra Francischett

O músico Felipe Radicetti é o autor da Cantata Revolta dos Posseiros, um projeto viabilizado através do Programa Estadual de Fomento de Incentivo à Cultura (Profice), da Secretaria de Cultura do Governo do Estado do PR. Felipe tem 64 anos, é natural do Rio de Janeiro e veio para Francisco Beltrão em 2014. É organista, com graduação em Música pela Escola de Música da UFRJ e conta com mestrado em Música e Educação pela Uni-Rio.  

Segundo Felipe, desde a sua chegada em Beltrão, há quase 10 anos, soube dos eventos de 1957. “Pesquisei e achei profundamente relevante para a memória das populações de todo o Sudoeste. O evento épico foi capaz de amalgamar os diferentes grupos em torno das dificuldades, mas sobretudo por conta da violência brutal a que foram submetidos.” E acrescenta: “Mas essa história ainda é capaz de promover a aproximação de diferentes grupos habitantes do Sudoeste. Ela ainda reverbera também se considerarmos que ainda há sobreviventes, que podem depor sobre os fatos, compartilhar suas visões e impressões sobre os fatos ocorridos há 65 anos. Em outubro completaremos 66 anos! Então propus ao Roniedson [Rebelatto] a realização/produção de concertos com a obra que ainda não tinha sido criada.”

Felipe destaca que foram meses de dedicação. A pesquisa com revisão bibliográfica e as entrevistas tomou cerca de 3 a 4 meses; a escrita do libreto (os versos que integram a parte literária da obra) cerca de 25 dias; e a composição musical, concepção da ambientação, juntamente com o arranjo e a orquestração (a criação das funções dos instrumentos) cerca de 45 dias. “A preparação da obra foi o que mais tempo consumiu. Mas é assim mesmo. A preparação, a reunião e seleção de materiais é a etapa que determina a qualidade da obra final.”

Para definir a narrativa, ele estruturou o que, por atribuição, considerou importante. Procurou relatar a chegada dos colonos no primeiro movimento da obra, denominado A Marcha para o Oeste; a formação de comunidades e dos vínculos que se estabeleceram, no segundo (Missões) e terceiro movimentos (Campo e Cidade). A questão fundiária foi relatada no quarto movimento “A quem pertence essa Terra”, na forma de uma novena, o que conferiu uma visão de sacralidade à relação do colono com a terra.

“Era preciso também dar espaço às vítimas da violência, e para isso uma vítima em especial – Pedrinho Barbeiro (quinto movimento) poderia representar todas as outras, e para estes, dedicar uma ária; um outro nome determinante para a precipitação dos fatos e para o resultado final foi o Dr. Walter Pécoits, e por isso também dediquei uma ária. Dediquei dois movimentos para representar o medo que oprimia as populações do Sudoeste com o movimento representando o silêncio em ‘Cidades Mortas’ e a importantíssima e ativa participação das mulheres em ‘Posseiras’.”

O autor registrou o papel da radiofonia para a mobilização dos posseiros no nono movimento (As vozes do Rádio). Para encerrar, o décimo movimento muda de sujeito de fala para relatar os fatos de outubro diretamente: “Sete Cenas de Outubro”. “Nesse movimento, utilizei materiais que pudessem promover a indução do sentimento de vitória dos posseiros. A música é mais forte, mais movida e busca deixar na memória do público o ambiente libertário e vitorioso que eu considero determinante para a formação da autoimagem dos habitantes do sudoeste paranaense.  Então a Cantata é uma obra lítero-musical que apresenta um novo relato, com o objetivo de trazer novamente ao debate em sociedade, os sentidos históricos que nos cabe cultivar e atualizar.”

Atualização da memória coletiva

Qual a importância deste evento para Beltrão e região? “Apresentar a Cantata A Revolta dos Posseiros é ofertar uma oportunidade e um espaço privilegiado de sociabilidades – em uma sala de concertos – mediado por música, onde as populações das cidades do Sudoeste do Paraná têm a oportunidade de se reaproximar desses fatos tão determinantes para formação da alma sudoestina”, responde Felipe.  

“Da mesma forma, os eventos oportunizam, além da atualização da memória coletiva, a oportunidade de incluir as gerações mais jovens no debate. É muito importante mencionar que apesar da obra ter sido concebida por um carioca, todos os documentos bibliográficos, documentários audiovisuais e entrevistas com testemunhas oculares dos fatos forneceram dados capazes de me permitir – e autorizar – a produção de uma obra que acaba por se inscrever entre os produtos culturais que contribuem para o processo civilizatório da região.”

Apresentações

Em outubro de 2019, sua Cantata “A Revolta dos Posseiros” para tenor, coro e orquestra estreou em Francisco Beltrão e Pato Branco, com a Orquestra Filarmônica de Valinhos (SP), sob a regência de Yonan Daniel.

A obra será reapresentada pela Camerata Solare, de Maringá, uma formação orquestral de cordas e piano, regida pelo maestro Yonan Daniel, acompanhando o solista tenor Etcheverry Santi Rebelatto e coro misto.

Mais sobre Felipe Radicetti

Compositor de formação clássica e premiado criador de música para TV, cinema, teatro e do cancioneiro popular, Felipe iniciou suas produções para TV na Globograph em 1987. Atuou como maestro e criador de música para comerciais de TV no Estúdio Nova Onda de 1993 a 2015. Radicetti publicou os livros Escutas e olhares cruzados nos contextos audiovisuais (2018) e Trilhas Sonoras: o que escutamos no cinema, no teatro e nas mídias audiovisuais (2020) e Introdução à Composição Musical Tonal: guia para os primeiros passos (2023) pela Ed. Intersaberes. É professor da Uninter, nos cursos EAD de Licenciatura em Artes Visuais e Licenciatura em Música.

Confira a seguir as datas das apresentações

– Dia 27 de fevereiro, às 19h30, no Pavilhão da Igreja Matriz São José, em Enéas Marques.

– Dia 28 de fevereiro, às 19h30, na Casa da Cultura, em Capanema.

– Dia 1º de março, às 19h30, no Centro Cultural Ricieri Quinto Guareschi, em Barracão.

– Dia 2 de março, às 19h30, no Pavilhão da Igreja Matriz, em Verê.

– Dia 3 de março, às 19h30, no Anfiteatro Ana Maria Basso, em Ampére.

– Dia 4 de março, às 19h30, no Centro de Eventos Heitor Rodrigues, em Santo Antônio do Sudoeste.

Legenda: Felipe Radicetti é o autor da Cantata Revolta dos Posseiros, um projeto viabilizado através do Profice.