UM POUCO SOBRE O HISTORIAR
Historiografia também pode ser chamada de história da história, é onde os historiadores explanam suas pesquisas, onde trazem os mortos de volta a vida, digamos. Certa realidade localizada em determinado tempo em dado espaço de maneira concreta, é o alvo do historiador, e claro, uma realidade onde exista o objeto homem como o foco principal para ser analisado. O tal recorte histórico nada mais do que pegar determinada época e certo lugar (local, regional ou nacional, ou mesmo, nacionais), e buscar analisar a mesma. Se vamos pesquisar sobre os Descobrimentos (ou Achamentos?), vamos circular tanto século XV quanto no XVI, num amplo espaço geográfico – as Américas. Parece algo bem óbvio, mas só parece. A ideia de história “total” é vaga, e não é possível abordar o globo todo. Na história do(s) Descobrimento(s), pode-se fazer um estudo “geral”, ou mesmo, específico: sobre determinada tribo, relações econômicas, etc. E dá pra ir afunilando cada vez mais. Historiografar é ir do geral para o particular, peneirando o que se estuda.
Certo, mas o historiar é feito com métodos bem variados. Hoje em dia até músicas ou mesmo games podem ser historiados. Até um tempo atrás arquivos eram ignorados por pesquisadores. Hoje, tudo pode ser historiado, desde que tenha a presença humana (individual-social, claro) em dado tempo-espaço. E para isso são necessários registros. Sem fontes, nada de história. E por fontes, vão desde as primárias, como manuscritos, aos jornais, ou fontes orais (testemunhas oculares, ou que herdaram lembranças das experiências de vida de sua família, de seu meio social), estátuas, edificações, obras de arte, entre tantas outras. Mas de qualquer maneira, a documentação escrita é importante uma base para o historiador. Não que não existisse história antes da invenção da escrita – até tinha, mas registros da mesma, raros, e quando são descobertos, entra a arqueologia, paleontologia e antropologia física para dar um norte nos estudos históricos. Interdisciplinariedade é mais do que bem-vinda. Nas palavras de Vavy Pacheco Borges: “O homem tem história desde que existe na Terra, mesmo que ela não esteja devidamente documentada para as gerações que vieram depois.”
Se documentos históricos eram apenas referentes a sujeitos “importantes” e suas papeladas, hoje, muita coisa mudou. E esse “hoje” tem quase 100 anos, desde Marc Bloch até o nosso presente fugitivo. Uma história crítica que foi e vai se aperfeiçoando cada vez mais. Aquele livro de receitas da nona ou mesmo sua entrada para o cinema que acabou se perdendo, também são documentos para serem historiadores, rodeados de contextos específicos.
Podemos dizer ainda, que os documentos ou fontes, “não são um espelho fiel da realidade, mas são sempre uma representação de parte ou momentos particulares do objeto em questão.” Afinal, por trás de uma fonte, lá estará o sujeito histórico.
Com o excesso de informações na atualidade, temos uma enorme game de documentação histórica quente. Se tornou comum falar em “dia histórico” quando ocorre algum evento de importância política (o encontro de dois chefes de Estado, por exemplo), como se todos os dias não fossem históricos também. Sem contar que esse termo “dia histórico” é meramente discursada de maneira tradicional e nada mais, passivo e acrítico. Não existe uma análise sobre isso na mídia, pois não é seu papel historiar, mas apenas repassar informações cotidianas, e quando usam o termo história, não raro, usam apenas pra se referir a “épocas antigas” e nada mais – um completo desserviço para os leigos que buscam conhecimento histórico.
Nessa história da velocidade implacável do nosso século XXI, temos uma história do imediato que se renova constantemente. Uma praia comum aos jornalistas ou mesmo aos sociólogos do tempo curto, nem tanto dos antropólogos do tempo “congelado”, e um desafio para os historiadores, os “mestres” do tempo lento, da longuíssima duração.
Referências bibliográficas:
BORGES, Vavy Pacheco. O que é história. 2 ed. rev. São Paulo: Brasiliense, 2002. (Coleção Primeiros Passos, v. 17)
HARTOG, François. Evidência da história: o que os historiadores vêem. Trad. Guilherme João de Freitas Teixeira e Jaime A. Clasen. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. (Coleção História & Historiografia, v. 5)