Psicologia

A vida a dois: amor que maltrata

Em várias ocasiões discute-se as dificuldades inerentes à relação a dois, os conflitos gerados pela falta de comunicação ou inadequação da mesma e as diferenças individuais que assola a vida dos casais. Apesar de saber que há várias formas de sofrimento numa relação, não penso em abordar os casos de violência doméstica propriamente dita, mas as violências que cada um se coloca dentro de uma relação conjugal.

A maioria das pessoas que entra numa relação, carrega consigo sonhos e expectativas, nem sempre realistas, sobre esta fase. A vida a dois tem muitos pontos que podem ser considerados positivos: amor, cumplicidade, dentre muitos. Ainda assim, nem tudo são flores! Todas as relações conjugais passam por fases de adaptação, momentos de grande prazer e aqueles de adequações aos desejos de cada um.

Mesmo compreendendo estas dificuldades fica difícil entender porque algumas pessoas insistem em relacionamentos dolorosos, amores que trazem mais dor que prazer.  O ser humano é dotado de uma alta capacidade de adaptar-se e isso faz com que nos acostumemos com o sofrimento: quando o sofrimento aparece gradualmente a resistência a ele é aumentada e acontece a adaptação. O indivíduo habitua-se a um relacionamento sem pontos positivos, só com sobrecargas.

Quando nos percebemos em relacionamentos desse tipo, é necessário fazer uma análise do que temos de positivo em nossa vida, abrir espaço ao egoísmo e , além do nosso “amor”, perceber outras fontes geradoras de prazer: amigos, esportes, lazer com outras companhias e compreender nossa forma de relacionar (isso às vezes requer ajuda profissional, pois nem sempre é fácil). Abrir espaço para esta análise, fará com que novas necessidades surjam dentro do relacionamento, tornando possível uma reaproximação dentro de parâmetros mais saudáveis para ambos, em que as individualidades sejam respeitadas e acolhidas.

A fim de adequar a relação entre casal é necessário que as bases do relacionamento conjugal sejam restabelecidas, isso só é possível se a comunicação for retomada ou estabelecida de forma adequada.

A comunicação pode se dar através de palavras, nem sempre usadas corretamente pelo ser humano, já que esquecemos do poder de uma simples palavra, por isso é necessário utilizar outra capacidade do ser humano antes de falar, o pensar. Além de saber escolher as palavras corretas, a pessoa precisa ser assertiva para saber se comunicar. Ser assertivo é ter a capacidade de transmitir ao outro o que quer, pensa e sente, de maneira eficaz, ou seja, de forma que ele realmente compreenda. Para saber falar precisamos saber ouvir e respeitar o espaço do outro, dando espaço para que este também se comunique.

A comunicação também é feita através de atos e isto acaba gerando sérios conflitos: fala-se uma coisa e faz-se outra. Falar que se preocupa é uma coisa, demonstrar preocupação é outra.

Ter interesses diferentes não é, em si só, um problema. O problema é estabelecido quando o casal não sabe contornar esta divergência e viver bem. “Não brigar não pode ser entendido como viver bem. Brigar não pode ser entendido como viver mal.” (Otero, Vera, 2003).

Há diversas maneiras de superar as dificuldades, injusto é não buscar um caminho que seja feliz aos dois.

“O mundo é grande e cabe

nesta janela sobre o mar.

O mar é grande e cabe

Na cama e no colchão de amar.

O amor é grande e cabe

No breve espaço de beijar”.

(Carlos Drummond de Andrade).

Francieli Franzoni Melati

Francieli Franzoni Melati Psicóloga – CRP 08/9543 Francisco Beltrão - PR