Coluna PET

AROMATIZANTE: O Agradável Veneno

Provavelmente, muitos já buscaram algum produto com o propósito de perfumar o ambiente interno de sua casa ou local de trabalho e, com certeza, já sentiram aquele cheirinho agradável ao entrar em alguma loja ou sala de espera.

Os aromatizadores de ambiente são produtos destinados a exalar uma mistura perfumada nos recintos, sendo encontrados em diferentes formatos, incluindo aerossol, gel, óleo e vela, e difusores diversos.

É crescente a procura por estes produtos, inclusive sob pretexto terapêutico ou relaxante; porém, seu uso pode propagar compostos poluentes e perigosos, e assim desencadear efeitos adversos para a saúde e para a qualidade do ar, inclusive causando graves danos ambientais.

Estes aromatizantes são perfumes; produtos compostos de uma mistura complexa chamada de fragrância, que são as essências que promovem a liberação de odor. Sua composição é basicamente: essência, diluente e fixador.

Inicialmente, tais fragrâncias eram provenientes de óleos essenciais, extraídos de plantas ou de suas partes e de animais selvagens. Atualmente, após a identificação dos compostos químicos, é possível a produção artificial de essências, o que possibilita o desenvolvimento de fragrâncias sintéticas, cuja produção chega a atingir menos de 1% do custo de um óleo essencial natural. Entre as fragrâncias artificiais estão substâncias químicas como o alfa amil cinamaldeído (jasmim), trinitrobutil-meta-xileno (almíscar), ácido fenilacético (flor de laranjeira) e o benzoato de metila (cravo). Obviamente, estes químicos podem levar a riscos sanitários, de forma aguda ou crônica.

Estudos recentes constataram que aromatizadores de ambiente emitem mais de 100 compostos químicos, muitos deles, tóxicos. Os mais perigosos são compostos orgânicos voláteis, como o Benzeno e o Formaldeído, e também alguns compostos orgânicos semi-voláteis como os Ftalatos e Galaxolide (principais químicos usados como fixador, cuja função é prolongar o efeito do aroma, retardando a evaporação da essência e permitindo que a ação dos perfumes durem mais tempo). Todos os tipos de aromatizadores (óleo, spray e até aquelas varetas embebidas no produto, e mesmo os incensos) têm potencial para emitir altas concentrações destas substâncias, inclusive os produtos considerados como orgânicos e naturais. Óleos essenciais também podem conter Parabenos e compostos como o Nonilfenol Etoxilado.

O grande problema é que a descrição dos químicos contidos em aromatizantes de ambientes – a composição – não é obrigatória e, sendo assim, na maioria das vezes esses componentes não são especificados pelos fabricantes. Nenhuma lei nos EUA, União Europeia ou no Brasil requer a divulgação de todos os ingredientes contidos nestes produtos. Da mesma forma, não existe nenhuma lei que obrigue a especificação de todos os componentes presentes na fragrância de um produto, sendo que esta, normalmente, é a mistura de uma grande quantidade de compostos químicos. Inúmeros ingredientes tóxicos podem estar legalmente escondidos com o termo fragrância, como uma forma de segredo industrial.

A exposição a aromatizantes, ainda que em baixos níveis, está associada a diversos sintomas e efeitos nocivos para a saúde humana e de animais. Suas substâncias atuam como disruptores endócrinos e apresentam efeitos ecotoxicológicos e cumulativos em seres vivos. Estes compostos foram associados à ocorrência de problemas reprodutivos em animais testados em laboratórios, provocando redução da fertilidade, aborto, defeitos congênitos e câncer de fígado e rins. Em humanos e animais domésticos, podem causar o surgimento de câncer, desregulação hormonal e diminuição da fertilidade masculina – por redução do número de espermatozoides –, além de enxaqueca, danos ao fígado e ao sistema nervoso central; alergias e dermatites; irritação dos olhos, nariz e garganta; dificuldades respiratórias e ataques de asma; fadiga, diarreia e dor de ouvido infantil; problemas cognitivos e problemas cardiovasculares; imunodepressão, tontura e falta de memória. Muitas das substâncias presentes podem causar envelhecimento precoce e outras alterações hormonais. Estudos demonstram que estes compostos contaminam águas superficiais e subterrâneas e que são tóxicos para a vida subaquática. Elevadas concentrações de fragrâncias são encontradas em estações de tratamento de águas residuais que recebem as redes de esgoto doméstico.

Na Europa, o uso dos Ftalatos é proibido em cosméticos e aromatizantes e o Galaxolide tem seu uso restrito. No Brasil, assim como em outros países, incluindo os Estados Unidos, ainda não há uma legislação que restrinja o uso destas substâncias em aromatizantes.

Sendo assim, esses produtos podem contribuir para a exposição humana a poluentes atmosféricos variados e complexos, muitos dos quais, sequer reconhecidos.

As substâncias presentes nestes produtos ligam-se muito facilmente às moléculas de água, favorescendo a formação de clusters e outras possíveis reações bioquímicas e intoxicando todo o sistema aquático. Como possui alto poder cumulativo, mesmo em pequenas concentrações, a longo prazo, tendem a causar danos metabólicos crônicos, reduzindo a resistência orgânica e imunitária dos animais. Este é o motivo pelo qual os aromatizantes e outros produtos voláteis causam tantos danos aos aquários.