DEPRESSÃO INFANTIL NA PANDEMIA
*Prof. Dr. Valmor Bolan
Os danos à saúde mental, principalmente entre as crianças, tem sido motivo de preocupação dos especialistas que estudam os efeitos da pandemia na sociedade. As mudanças ocorridas no dia-a-dia, com as restrições de várias atividades, trouxeram vulnerabilidade, com isso, mais depressão e ansiedade. Nem todos conseguem compreender o que está acontecendo e precisam de apoio. Miriam Rosa conta que “em um novo trabalho, publicado no periódico JAMA Pediatrics, pesquisadores da Universidade de Calgary, no Canadá, avaliaram dados de 29 estudos (um processo chamado de metanálise) com crianças e adolescentes em diversos países e chegaram a alguns números alarmantes: um em cada quatro sofre de depressão, enquanto um em cada cinco está lutando contra a ansiedade. Os dados indicam que os sintomas relacionados às doenças dobraram entre indivíduos desses grupos em comparação com tempos pré-pandemia. E evidenciam ainda que eles parecem estar piorando com o tempo”. E acrescenta: “A irritabilidade é uma das principais reações emocionais em crianças, e a falta de amigos na escola é uma constante. Já os adolescentes apresentam tristeza, solidão e tédio, outros sintomas depressivos que requerem mais atenção para que o adolescente não se desestimule por completo. Já nos adultos, mesmo em outras pesquisas nacionais e internacionais, ansiedade e depressão foram as respostas mais intensas, decorrentes ou relacionadas à pandemia”.
O distanciamento social e o tempo prolongado em casa alterou a rotina de muitos, interrompendo laços de afeto e sociabilidade, fazendo com que crianças, adolescentes e jovens sintam-se mais necessitados de apoio. Daí a importância dos pais estarem atentos e buscarem dar o suporte de que precisam os seus filhos, buscando dialogar e interagir mais com eles, para que não se sintam sozinhos e possam melhor responder aos desafios existentes. Se não houver esse apoio, as crianças irão buscar o suporte nas redes sociais, e poderão não conseguir suprir aquilo que somente os pais e educadores podem proporcionar.
Especialistas concordam também que “as redes sociais podem oferecer gatilhos mentais para quem tem algum distúrbio ou transtornos psiquiátricos e agravar os sintomas”, segundo a psiquiatra Renata Nayara Figueiredo, presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr) : “A pessoa que já tem transtornos mentais são as mais vulneráveis, tem outros fatores de risco e a rede pode servir de gatilhos mentais para muitas coisas, por exemplo, nos transtornos alimentares, com comportamentos purgativos, de pacientes anoréxicos, ou bulímicos”. E mais: ““ Uma pessoa que está triste porque não conseguiu tal coisa e a outra pessoa está comemorando porque conseguiu, ou a pessoa que está triste e vê nas redes sociais só coisas boas; este também é um gatilho de um paciente deprimido ou ansioso”. Por isso é importante que os pais e os professores estejam atentos a isso e ajudem as crianças, adolescentes e jovens a superarem a crise, com diálogo e interação, para evitar a depressão e a ansiedade.
Valmor Bolan é Doutor em Sociologia. Professor da Unisa. Ex-reitor e Dirigente (hoje membro honorário) do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras. Pós-graduado (em Gestão Universitária pela OUI-Organização Universitária Interamericana) com sede em Montreal-Canadá.