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Domingo, ainda existe?

Para o sistema neoliberal, o domingo se torna um dia crucial e paradoxal. Afinal, para o mercado, o que interessa um dia sem produzir ou de “folga”, um dia “inútil”? Vem- nos a pergunta à mente: “domingo, ainda existe”? Ou se trata de um equívoco, uma ideologia ou a supremacia do cristianismo? Não há dúvida de que o domingo – “o primeiro dia da semana”, “o primeiro após o sábado” – tem como realidade de fundo os fatos e tradições pascais: Ressurreição e aparições de Cristo. Isso tudo marcou tão profundamente o domingo, que ficou sendo, desde as origens e para sempre, a celebração semanal do Mistério Pascal. Estes são os aspectos teológicos desta “data religiosa”. Como conciliá-la com datas comerciais e laborais, ainda que algumas necessárias? Esse será o tema do Congresso Diocesano dos Ministros Auxiliares, neste domingo, 23 de outubro, em Francisco Beltrão.

Na Carta Apostólica Desiderio Desideravi – “tenho desejado ardentemente comer convosco esta ceia pascal, antes de padecer” (Lc 22,15), o Papa Francisco escreveu acerca do Domingo: “À medida que avança o tempo renovado pelo mistério da sua morte e ressurreição, a cada oitavo dia, a Igreja celebra no dia do Senhor o acontecimento da nossa salvação. O domingo, antes de ser um preceito, é um dom que Deus faz ao seu povo; e por isso a Igreja o protege com um preceito. A celebração dominical oferece à comunidade cristã a possibilidade de ser formada pela Eucaristia. De domingo a domingo, a palavra do Ressuscitado ilumina a nossa existência, querendo realizar em nós o fim para o qual foi enviada. De domingo a domingo a comunhão no Corpo e Sangue de Cristo quer fazer também da nossa vida um sacrifício agradável ao Pai, na comunhão fraterna da partilha, da hospitalidade, do serviço. De domingo a domingo a energia do Pão partido nos sustenta no anúncio do Evangelho no qual se manifesta a autenticidade da nossa celebração” (n. 65).

Celebrar versus trabalhar no domingo!

O teólogo francês e jesuíta Jean Daniélou (1905-1974), comentando o exemplo dos primeiros cristãos, escreveu: “Nada poderá atentar contra a participação na Eucaristia. Mesmo que algum dia um novo paganismo ou, digamos assim, uma organização mais racional da sociedade forçasse os cristãos, individualmente ou em grupo, a trabalhar durante o domingo, eles, como no tempo dos mártires, deveriam reunir-se antes do amanhecer para celebrar o memorial do Senhor”. Dies Domini – O Dia do Senhor!

Dies Domini é uma Carta Apostólica do Papa São João Paulo II, de 30 de julho de 1998. O Papa incentiva a população católica a “redescobrir o significado” por trás da santificação do Dia do Senhor. Na introdução, João Paulo II já esclarece a linha-mestra desta Carta: “O Dia do Senhor – como foi definido o domingo, desde os tempos apostólicos – mereceu sempre, na história da Igreja, uma consideração privilegiada devido à sua estreita conexão com o próprio núcleo do mistério cristão. O domingo, de fato, recorda, no ritmo semanal do tempo, o dia da ressurreição de Cristo. É a Páscoa da semana, na qual se celebra a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, o cumprimento n'Ele da primeira criação e o início da ‘nova criação’. É o dia da evocação adorante e grata do primeiro dia do mundo e, ao mesmo tempo, da prefiguração, vivida na esperança, do ‘último dia’, quando Cristo vier na glória e renovar todas as coisas” (DD, n. 1). Todos os que tiveram a graça de crer no Senhor ressuscitado não podem deixar de acolher o significado deste dia semanal, com o grande entusiasmo que fazia São Jerônimo dizer: ‘O domingo é o dia da ressurreição, é o dia dos cristãos, é o nosso dia’. De fato, ele é para os cristãos o ‘principal dia de festa’ estabelecido não só para dividir a sucessão do tempo, mas para revelar o seu sentido profundo” (cf. DD, n. 2). Portanto, vamos observar o Domingo!

Dom Edgar Xavier Ertl – Diocese de Palmas-Francisco Beltrão-PR

Dom Edgar Ertl

DOM EDGAR ERTL Bispo Diocesano

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