Teorias & Fatos Históricos

HISTÓRIA ORAL: ALGUNS APONTAMENTOS

A história oral nada mais do que a história falada, digamos. Ou ainda: antes da escrita, ela já predominava. A memória está associada a essa maneira de registrar a história. Há quem diga, que fontes de cunho oral, “por serem resultantes de um trabalho de memória [com a objetividade faltante], não teriam estatuto e legitimidade como fontes de pesquisa”, explica o historiador Telmo Marcon. Porém, esse tipo de crítica é fraca quando a história oral entra em choque com a história escrita: é a possibilidade de outras interpretações, e claro, desconstruções para ampliar o conhecimento de um determinado período (relativamente recente). Afinal, por memórias, elas estão não somente na oralidade de um depoimento, mas também, na escrita – essa última a fonte tão elogiada por aqueles que seguiam o positivismo, está sujeita a toda uma série de subjetividades também (o documento escrito em seu entorno, com interesses políticos e variados, tal como a história oral!).

Marcon explica que é um equívoco achar que a memória se limita apenas em guardar informações. A mesma acaba relembrando, e reelabora vivências em dado espaço e tempo devido ao tempo constante, o presente. Isso pode ser facilmente compreendido, já “que pessoas que tomaram parte dos mesmos processos e acontecimentos reconstroem suas memórias de um modo próprio.” Assim, a releitura do passado ganha outros olhares, novas perspectivas. Ainda falando de memória, certos aspectos acabam ganhando vulto enquanto outros ficam de lado. A memória nunca é algo fixo, ela pode ser seletiva, mas filha de um tempo presente que busca reler o passado.

Vale ressaltar, que por meio de fontes orais acaba vindo a tona uma quebra do padrão que determinado episódio era visto, já que grupos marginalizados acabam dando suas vozes e oferecendo outras possibilidades de interpretação e análises. E mais ainda: esse ofício do historiador na história oral também desconstrói incontáveis mitos construídos por grupos dominantes que buscavam legitimar uma versão da história para eles mesmos, grupos esses que podem ser institucionais, políticos, de alguma elite específica, grupos com pessoas influentes ou mesmo envolvendo trabalhadores (isso mesmo, até em grupos ditos populares existe por vezes aqueles que desejam impôr “verdades” se legitimarem historicamente, usando escudo ideológico).

De qualquer maneira, a história oral busca nas contradições novos horizontes de um passado movediço, novas interpretações de uma sociedade que nunca para. Memória nunca será algo fixo: ela é tão presente como o “nosso agora”.

Referência bibliográfica:

MARCON, Telmo. Fonte orais e escritas: algumas reflexões. In: CADERNOS do CEOM (Centro de Organização e Memória do Oeste). Ano 14, n. 12, Chapecó: Argos, 2000. p. 25-44. (Educação Patrimonial e Fontes Históricas)