Livros dos Provérbios, governantes e altos impostos
Quando os honrados governam, o povo se alegra, quando os perversos mandam, o povo se queixa. Um governo justo torna o país estável, quem o carrega de impostos o arruína. O governante que dá atenção a enganos terá criminosos como ministros (Prov. 29,2.4.12).
Os versículos acima, do livro bíblico “Provérbios” – os pensamentos dos velhos sábios de Israel – apareceram nestes últimos dias nas redes sociais para chamar-nos a atenção diante do caos instaurado no Brasil, a partir da perspectiva política e econômica, culminando com a greve dos caminhoneiros e outras categorias de trabalhadores, atingidos especialmente pelos altos juros cobrados pelos combustíveis, especialmente no óleo diesel.
A Palavra de Deus não pode ser instrumentalizada ou manipulada pelos seus leitores e seguidores das religiões judaicas e cristãs. A Palavra carrega em si todo o significado da história do Povo de Deus, do povo eleito, sem necessidade de acréscimos ou complementos ideológicos para dizer o que eu pretendo. Não. Ela já diz tudo o que precisa ser dito. O texto acima está coberto de razão se comparado ao sistema brasileiro de governança e os altos juros que somos obrigados a pagar, desde as pequenas às grandes compras diárias. Um absurdo, diga-se passagem.
Voltemos ao texto. Os temas da ética e da política fazem parte dos textos proverbiais. Seus autores são anônimos para a exegese bíblica. Mas retratam a sociedade de sua época e a forma de governança. Quando os honrados governam, o povo se alegra, fica feliz. Correto. O governo está em função do povo, especialmente dos necessitados, como ensina o Salmo 73: “Como Deus é bom para o honrado” (v.1). Quando os perversos governam o povo sofre. Então, faz-se urgente lamentar-se, queixar-se e, poucas vezes, ouvido e atendido em suas necessidades fundamentais. As inúmeras paralisações no Brasil atestam o que escreveu o autor bíblico. Uma plêiade de homens e mulheres no Brasil não tem espaço e voz para reivindicar. São mais de 32 milhões de empobrecidos, abaixo da linha de pobreza. Quem grita por eles!
Um governante honesto torna o país, o estado, o município, a cidade, o distrito estável, equilibrado, com transparência e sob controle na administração. O suborno e a sobrecarga de impostos levam as intuições à falência, a ruínas. Um bom administrador, um governante com princípios éticos e morais inculca no seu povo gastos moderados e transparentes. O povo sente-se cúmplice pela honestidade e pelo zelo das coisas públicas. Tem alegria em participar e opinar nos temas políticos, econômicos e sociais. Trata-se de um caminho ainda longo para quem sabe termos “uma nova cultura” de corresponsabilidade social e política. Para que isso seja fato não se admite suborno, especialmente nas licitações e compras necessárias às administrações. “O dinheiro é para servir e não para governar” (Papa Francisco).
No terceiro texto proverbial aparece um tema de grande importância para a composição de governos bons, justos e honestos. “O governante que dá atenção a enganos terá criminosos como ministros”. Isto é, deveras, uma profecia relevante às épocas hodiernas da nossa política administrativa brasileira e os critérios de escolhas de nossos ministérios. Nossos ministérios são ocupados por pessoas vinculados a grupos políticos ou econômicos. Fazem parte de grandes oligarquias financeiras e, além disso, não obstante, são corporativistas para ocuparem cargos de grande responsabilidade, porém sem preparação técnica para tal ofício. Dentro da corrupção e das fraudes, as espécies acima, desbancam os honestos para ocupar o lugar deles. No reino da mentira, não há coordenadas para nenhuma orientação verdadeira. Tudo é válido, tudo é permitido. Quantas pessoas abandonaram ofícios públicos por não compactuarem com o crime e os sistemas de corrupção!
“A política é um pântano de onde ninguém sai limpo”. A frase é emblemática. Não conheço o seu autor, entretanto, lamentavelmente temos que dar-lhe razão. Oxalá não fosse verdadeira. Os fatos nos mostram sua autenticidade e puro realismo. Não gostaríamos que a política administrativa, uma das mais belas artes do cuidado e zelo das coisas públicas, tivesse este fim.