Mulher pode ser tanta coisa além de um corpo padronizado
Outro dia conversando com uma amiga, tivemos um insight vindo daquele ditado (bastante infeliz) de que “não se pode ter tudo na vida”. E pior, estamos obedecendo (e muito) isso. Quem foi que inventou essa máxima? Então se você é inteligente não pode ser bonita? Se é bem sucedida, não pode ser boa mãe? Se está acima do peso, não pode ser feliz? Se está magra, te cobram disso? Se é solteira e independente, não é confiável?
Hoje em dia confiamos mais na capa de revista e na blogueira fitness magérrima da rede social do que no nosso espelho para dizer como devemos ser fisicamente. Desde quando uma celulite é capaz de nos manter dentro de casa em pleno verão ao invés de estar na praia curtindo a estação? Por que confiamos mais nas opiniões dos outros do que na nossa voz interior? Quem sabe mais de nós mesmas? E quem sabe o que é melhor para nós? A nossa voz interior ou a pessoa que critica o seu corpo? Ou que quer que você se encaixe em um padrão e seja seduzida por uma indústria inteira relacionada à beleza?
Por que estamos nos tratando assim? Por que usamos termos pejorativos para falar de nós mesmas ou de nosso corpo? “Hoje comi feito uma porca”.. “Nossa, estou um lixo”.. “Preciso queimar essas gorduras do meu quadril” .. “Sou uma inútil porque furei a dieta”. Por que estamos sendo críticas e exigentes demais? Por causa de um padrão de imagem que querem nos encaixar? E se você conseguir atingir esse padrão, você acha que a felicidade estará ali? Que nem o pote de ouro ao final do arco-íris?
Acho que não, pois na verdade a felicidade real não está nos números que nos cercam: o peso, o percentual de gordura, a idade, o manequim, as calorias consumidas, a felicidade está em quem somos, o que construímos ao longo da vida. Em nossas relações sociais e no legado que vamos deixar. Eu sempre brinco com meus alunos: o que você gostaria que estivesse escrito na sua lápide quando você morresse? “Aqui jaz fulana, magra que vestia tamanho 36” ou “Aqui jaz fulana, uma pessoa alegre, cheia de energia, que cativou a todos por onde passava”?
Veja, o nosso corpo é o nosso único e maior bem, e por que estamos o tratando desta forma? Com críticas, punições e pouca compaixão, como por exemplo: tomando remédios para emagrecer que desorganizam todo o seu metabolismo, impondo dietas restritivas ou jejuns que fazem seu cérebro funcionar de forma pior, nos punindo na academia fazendo horas e horas de atividade física por que comemos uma fatia de torta.
Tendo pensamentos obsessivos sem parar, como o cachorro que corre atrás do rabo, por uma culpa sem fim por ter comido um brigadeiro na festinha do seu filho. Aceitar o corpo que nós temos não significa acomodação. E sim fazer o melhor dele. Sim, podemos ser bonitas, bem sucedidas, inteligentes, boas mães, tudo ao mesmo tempo.
Vamos ter compaixão com a gente mesma? Nos aceitar? Honrar o corpo que nos foi dado e os alimentos que comemos? Vamos nos tratar com mais carinho e entender que somos a melhor versão de nós mesmas. E que no final das contas, queremos ser lembradas por isso tudo ai, e não por um modismo. Fonte: Autora do texto nutricionista Camilla Estima.