O ABRAÇO DE DEUS!
Me impressionou, ainda em 2013, no início do pontificado do Papa Francisco, na homilia, durante a missa com os seminaristas e noviças/os, quando falou-lhes sobre uma missão nobre para os futuros consagrados/as e a todos os cristãos: “Levar o abraço e a consolação de Deus”! O mundo precisa urgentemente de missionários/as da consolação, da misericórdia, da ternura e do abraço de Deus. “Hoje as pessoas precisam certamente de palavras, mas, sobretudo têm necessidade de que testemunhemos a misericórdia, a ternura do Senhor, que aquece o coração, desperta a esperança, atrai para o bem. A alegria de levar a consolação de Deus”. Sejam, pois, portadores do abraço de Deus às pessoas do nosso tempo, pedia o bispo de Roma, insistentemente!
Na Bíblia encontramos alguns exemplos de abraços, de consolo, de acolhida amorosa. Quando Labão ouviu a notícia a respeito de Jacó, filho de sua irmã, “correu ao seu encontro, abraçou-o, beijou-o e o levou para casa” (Gn 29,13). O emocionante encontro entre Jacó com Esaú, que eram inimigos: “Esaú correu para recebê-lo e abraçou-o chorando” (Gn 33,4; cf. 45,14). No Eclesiastes quando o autor descreve que tudo tem seu tempo e ocasião diz: “tempo de abraçar” (3,5). Já no Livro dos Provérbios há uma bela sentença, uma promessa para os que cultivam o abraço, a ternura como virtude: “Estima-a e te fará nobre; abraça-a, e te fará rico” (4,8).
Jesus, nos Evangelhos, dá-nos belos exemplos de acolhida pelo abraço. Jesus acolhe nos seus braços um menino e diz aos “crescidos” discípulos: “Quem acolher uma destas crianças em atenção a mim, a mim acolhe”. Um exemplo de sensibilidade, de acolhida, de abraço misericordioso, encontra-se na “Parábola dos dois filhos”: Diz o texto: “E se pôs a caminho da casa de seu pai. Estava ainda longe quando seu pai o avistou e se comoveu. Correndo, lançou-se ao seu pescoço e o beijou” (Lc 15,20). Esse abraço acompanhado do beijo entre o pai e o filho que volta à casa sela a reconciliação desta família fragilizada pela decisão deste filho de ir embora com a parte da herança, para lugares distantes. É um abraço de entranhas, sem perguntas moralistas e condenatórias. Tudo está perdoado. Vida nova naquele lar, naquela família. Um abraço que muda a história “do filho mais novo”. Esse abraço prolonga a sua vida, sobretudo a sua dignidade como pessoa, como filho e como membro de nova sociedade.
Vivemos numa sociedade inflacionada e engessada de objetos e situações que nos fazem perder a sensibilidade, a ternura, a compaixão, o afeto e a amizade. Podemos dizer que vivemos hoje uma crise de valores. Estamos contaminados pelo vírus da desumanidade. “Da minha vida e das minhas coisas cuido eu”. O comediante Fábio Porchat diz que “as pessoas pararam de prestar atenção no mundo”. Sério! Penso que podemos alargar a afirmação. As pessoas pararam de prestar atenção em si mesmas e nos seus semelhantes, sobretudo, nos gestos simples, nos gestos de amor, de caridade, nos gestos da vida. Tudo isso nos fragiliza e tantas vezes somos descaracterizados na maneira de nossos comportamentos.
Não basta aqui fazer um rosário de nossas carências e desumanidades. O que podemos fazer, então, como cristãos católicos e diocesanos de Palmas/Beltrão, pessoas de fé e comprometidos com causas nobres, que desejam viver de fato os consolos e os abraços de Deus e concretizar o pedido do Papa Francisco?
O abraço é a forma perfeita de mostrar o que as palavras tantas vezes não conseguem dizer. Porque nossas palavras não atingem seus genuínos objetivos por uma série de razões. O gesto do abraço prolonga a nossa existência, prolonga a nossa esperança e torna-nos felizes. Somos chamados a levar o abraço de Deus pelas nossas mediações proporcionando novas relações interpessoais pela acolhida, pela bondade, pela afabilidade, pela benevolência nos moldes do Mestre Jesus de Nazaré. Você já abraçou alguém hoje? Caro leitor, meu abraço fraterno!