O OLHAR: PORTA DO CORAÇÃO
“Depois da pandemia são necessários novos olhos para olhar a realidade”, afirmou o papa Francisco em entrevista concedida ao Mons. Dario Viganò, em seu livro “O olhar: porta do coração. O neorrealismo entre memória e atualidade”, aonde debateram temas ligados à arte, especialmente ao cinema, em que o papa Francisco pede para redescobrir, por meio do cinema, “uma educação para o olhar puro. E a importância de conservar a memória por imagens”. Ao falar sobre o neorrealismo, assim se expressou o papa: “Apreciei muitíssimo o fato de este livro captar esse aspecto fundamental: o valor universal desse cinema e a sua atualidade como importante instrumento para nos ajudar a renovar o nosso olhar sobre o mundo. hoje de aprender a olhar! A difícil situação que estamos vivendo, marcada profundamente pela pandemia, gera preocupação, medo, desconforto: por isso, são necessários olhos capazes de romper a escuridão da noite, levantar o olhar por cima do muro para perscrutar o horizonte.” E acrescentou: “É por isso que a reflexão sobre o olhar se abre para a transcendência. Como seria bom redescobrir, por meio do cinema, a importância da educação para o olhar puro. Assim como o neorrealismo fez”.
Nesse sentido, precisamos redescobrir um novo olhar para a realidade, com a esperança de que poderemos superar as inquietações e incertezas do tempo presente, com a fé renovada de que será possível “perscrutar o horizonte”, sempre com possibilidades novas, capazes de ampliar nossas perspectivas. A pandemia mostrou nossas limitações e fragilidades diante de uma situação inesperada, que está exigindo de nós uma busca de compreensão maior sobre o que somos e o que temos de valor humano, sobre o que podemos fazer para mitigar sofrimentos ao próximo, sobre o que é possível realizar para trazer esperança às pessoas, principalmente aos mais atingidos pela crise, seja com a doença ainda desconhecida, seja no transtorno das restrições na vida cultural e econômica, em todos os aspectos da sociedade. Não podemos nos entregar ao desânimo, mas reerguer, com o olhar de que é possível uma nova realidade.
Ainda falando sobre o cinema, o papa Francisco destacou: “Os filmes neorrealistas não são documentários que devolvem um simples registro ocular da realidade. Devolvem, sim, mas em toda a sua crueza, através de um olhar que envolve que move as entranhas, que gera compaixão. É a qualidade do olhar que faz a diferença, à época assim como hoje. O olhar neorrealista não é um olhar de longe, mas um olhar que se aproxima, que toca a realidade assim como ela é, que cuida dela e, portanto, que a põe em relação”. Daí que a palavra do papa nos dá ânimo, com seu convite para que sejamos capazes “de romper a escuridão da noite, levantar o olhar por cima do muro para perscrutar o horizonte”, pois é assim, com a disposição para olhar a realidade com novos olhos, é que iremos descobrir que o sentido da vida continuará a trazer para nós o desafio de nos aprimorar como seres humanos, capazes da responsabilidade e da solidariedade, e assim valorizar o que a vida tem de melhor. E ainda que esse olhar novo se abra para a transcendência, para que possamos sentir a presença de Deus a nos fortalecer e a nos dar, a cada dia, um olhar renovado de esperança.
Valmor Bolan é Doutor em Sociologia. Professor da Unisa. Ex-reitor e Dirigente (hoje membro honorário) do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras. Pós-graduado (em Gestão Universitária pela OUI-Organização Universitária Interamericana) com sede em Montreal-Canadá.