O SANTO GRAAL: O QUE ERA OU O QUE SE TORNOU?
Uma das lendas mais famosas na história do Ocidente gira em torno do Santo Graal. Tradicionalmente, teria sido um cálice sagrado usado por Jesus Cristo na Santa Ceia. Essa versão mais conhecida foi difundida durante a Idade Média, onde cálices eram de fato usados. Aquele formato clássico obviamente de uma taça não era de um objeto do começo do século I d.C., mas um medieval. O cinema, a literatura, os quadrinhos, variadas mídias reforçaram ainda mais essa ideia do Santo Graal ser um cálice.
De acordo com Sérgio Pereira Couto, “o que era” o Graal, ganhou muitos contornos, e explica: “Para quem pesquisa o assunto, o verdadeiro Graal, que teria sido usado por Cristo na Ceia ou por José de Arimateia durante a crucificação, teria um formato bem diferente do tradicional cálice. A ideia da existência do Santo Graal foi apresentada em várias narrativas, principalmente medievais, e de várias formas: uma taça, um cálice, um caldeirão de abundância, uma relíquia ligada ao sangue de Cristo, um copo, uma cuia, uma travessa de prata, um prato, uma pedra do céu (um meteoro?), uma espada, uma lança, um peixe, um livro, o maná, uma cabeça decepada (eco dos Templários?), uma mesa, um arpão, um pombo com uma hóstia no bico, um evangelho secreto, uma luz resplandecente, uma lança branca que sangra, e várias outras coisas.”
A mais polêmica das versões do Santo Graal, seria ele ser a própria Maria Madalena, devido ao contato mais próximo que ela teria tido com Cristo (e aqui não cabe discutir a historicidade de ambos personagens), sendo ou não sua companheira – lembrando que a ideia de celibato cristão no clero foi adotada pelo catolicismo, a o Messias ter sido solteiro, seria no mínimo estranho na época, pois o celibato não era visto com bons olhos. De qualquer maneira, entre relatos, narrativas, crônicas, romances, enfim, supostamente Madalena estaria em um caixão (uma relíquia, claro), segundo um cronista da primeira metade do século VIII, Sigisberto. No fim do século XVI, o então papa Clemente VIII, comandou uma expedição que acabou achando o mítico objeto, ou no caso, o Graal, uma relíquia: a cabeça de Maria Madalena. Quase dois séculos depois, Em meio às turbulências da Revolução Francesa, a igreja onde a relíquia se encontrava, La Sainte-Baume, acabou sendo restaurada no ano de 1822. Assim, o local foi reconsagrado a Madalena/santa/relíquia/Graal. Couto informa que a cabeça de Madalena ainda está na citada igreja, o que explicaria o grande volume de peregrinações.
Obviamente falar de lendas na história é algo delicado, ainda mais quando envolve religião, onde os debates se acaloram. Mas não deixa de ser possível historiar as mesmas para encontrar algo na temporalidade, as mudanças, as pegadas nas areias da história. O dinamismo de uma lenda sobreviver ao longo do tempo e ganhar tantos contornos diferentes pode falar algo sobre uma época em específico, o modo de pensar e agir de um povo, de um grupo. O que realmente era o Santo Graal ou o que ele se tornou ou se torna, é o mais relevante? Culturalmente, não teremos nenhuma resposta.