O zumbi virtual
(Uma crônica de Claudemir M. Moreira)
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Não sei se atônito é a palavra certa, mas estou aqui, há uns dez minutos, tentando entender tudo que li…
As pessoas perderam o senso crítico, a racionalidade… trancaram suas personalidades em gavetas ou algum tipo de baú bem velho; em um porão ou um sótão empoeirado, quem sabe… e agora seguem o ditame daqueles que os dominam… inconscientes e absurdos… feito zumbis…
Os comentários acerca de tudo o que pede imparcialidade e compaixão, flui em um mar de ignorância e fanatismo… uma incivilidade cega e doentia.
Sempre vi o humano como um ser complicado, mas vejo que é muito mais. Já culpei os agrotóxicos e os transgênicos, as radiações, as ondas eletromagnéticas e o uso exagerado da “luz azul”… já culpei até os raios gama, do sol. Culpei o Flúor, o cloro… o alumínio de nossas panelas. Já culpei todas as guloseimas coloridas, seus aromatizantes, seus conservantes… e até aquela vacina de “pistola” que nos deixava marcados eternamente. Culpei a religião e a falta de fé verdadeira, mas percebi que o problema do ser humano é somente ser… humano…
E eu aqui pensando, tentando entender a covardia humana por detrás de suas telas… verdadeiros escudos cibernéticos. Isso me faz lembrar de um desenho animado de Walt Disney – “Motor Mania”, de 1950 – em que o Pateta (nome que vem bem a calhar) se transformava completamente, ao “pegar ao volante”, de um homem simpático, ético e correto para um ser de personalidade totalmente transtornada… hoje “os Patetas” somente trocaram volantes por “smartphones”.
E vejo que não há mais o que fazer… e tudo, dia após dia, só piora.
Eis um problema de solução quimérica…
Uma alma que vaga, perdida entre fibras ópticas e ondas de redes wi-fi, jamais poderá ser salva… a rede agrega, aprisiona e toma por seu, e jamais devolve…
O antropólogo e etnobotânico Wade Davis perdeu muito de seu precioso tempo indo ao Haiti para conseguir entender a cultura vodu e a lenda local sobre zumbificação… não é preciso nenhuma neurotoxina de sapos ou de baiacu… ou de qualquer outra origem que seja… para zumbificar alguém – ou mesmo um enorme grupo de pessoas – basta dirigir, insistentemente, mentiras de encontro ao seu ego.
O enorme exército zumbi vaga nas redes a todo instante, lutando pelos ideais de seus algozes.
Enquanto o povo pensar fazer parte de uma elite e lutar por um ideal do qual não se faz incluso, enquanto manter a inconsciência e continuar refém dessa inércia mental, teremos os 5% acumulando poder através dessa escravidão psíquica… e o mundo, às ruínas…
Hegel, ao tratar da transmutação psíquica do mestre à consciência, jamais poderia imaginar a extensão que essa escravidão mental pudesse chegar.
Judith Buttler trata muito bem dessa relação de subordinação consentida do povo psicologicamente escravizado a seu mais novo “senhorio”, seu “mestre”…
A abolição da escravatura foi física e não psíquica e, portanto, nunca existiu… enfim, esta é a causa da desgraça terrena frente a seu maior parasita, o ser humano… o então zumbi virtual.
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