GeralVia Poiesis

OS AMANTES

(Um conto de Cleusa Piovesan)

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– Não posso, meninas, o Julian está vindo pra cá hoje. Fica para a próxima! Divirtam-se!

Essa era a resposta usual de Karine quando as amigas lhe convidavam para ir a uma festa, ou a uma lanchonete, não importava o dia da semana. Se Julian estivesse com ela, ele era exclusividade, mas ele não a tratava com prioridade. Se havia um churrasco com os amigos, Julian desmarcava o encontro ou vinha mais tarde, para passar a noite, ou seja, quando ele estava disposto a uma noite de sexo, sem compromisso! Diversão garantida com uma mulher linda, cheirosa, inteligente e a sua disposição. Bastava ele dizer:

– Estou aqui, meu anjo! Ou – Cheguei, princesa!

Palavras mágicas e o anjo princesa esquecia-se do mundo para estar com Julian, o amante turista, aquele que aparecia de surpresa, e ficava vários dias, até que avisava:

– Estou indo embora hoje, bebê! – Sem despedidas. Sem outras explicações além de – Te aviso quando vir novamente, princesa! E tchau!

As noites de sexo, regadas a vinho, tornavam-se lembranças, e os desejos eróticos de Karine eram saciados com os brinquedinhos do sex shop. Assim, Karine acostumou-se a não perguntar, e nem a dar satisfação de sua vida a Julian. Gostava do inesperado; sempre achou que a rotina mata os relacionamentos.

Karine também tinha um amante ocasional, para as horas em que um abraço e um beijo na boca lhe faziam falta. Um antigo namorado, Roberto, com resquícios do saudosismo de uma época em que o sexo era tabu, e seus encontros eram às escondidas, como o são agora, só que bem mais apimentados, com a experiência dos anos. Ela também não queria assumir nada com Roberto, que continuava solteiro, ou seja, ele queria uma vida sexual obscura e livre, tanto quanto Karine.

Sendo uma mulher experiente e cheia de tesão, Karine tinha consciência de que nenhum dos dois amantes lhe satisfazia plenamente, faltava companheirismo, afeto, mas era melhor do que ter alguém lhe exigindo satisfações. O sexo era bom e ela também prezava sua liberdade. Então, deixava rolar, sem estresse.

Karine não sentia falta de Julian se ele demorasse muitos dias a aparecer, nem de Roberto, que morava em outra cidade, e só a chamava para uma noite de sexo casual. Sem envolvimento emocional, era assim que Karine se relacionava; com ambos.

E isso, após dois anos, virou rotina! E Karine, insatisfeita, numa mesma semana, rompeu o relacionamento com os dois amantes. Sem explicações a nenhum!

Só ela sabia que aquele convite para um café da manhã, feito por André, o desconhecido que conheceu nas caminhadas ao entardecer, era a razão dos términos. O olhar de André prometia novas aventuras, porque o café seria degustado, num motel de luxo, depois de uma noite de sexo casual, com imersão nos sais perfumados na banheira para um banho relaxante, para dormir de conchinha até surgirem os primeiros raios de sol. E André lhe diria, com sua voz sedutora:

– Bom dia, princesa! Está com fome? Ou…

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