Teorias & Fatos Históricos

QUAL É A ORIGEM DA MITOLOGIA SEGUNDO THOMAS BULFINCH?

O mitólogo norte-americano Thomas Bulfinch (1796-1867), produziu o livro mais famoso para estudos de mitologia: O Livro de Ouro da Mitologia, originalmente chamado de A Idade da Fábula. Tal obra foi escrita no século XIX serviu e serve de base para pesquisas até hoje em muitas bibliotecas em colégios bem como em universidades ao redor do mundo. É um livro fascinante que narra as “histórias” da Antiguidade, suas lendas. Talvez a única coisa batida em A Idade da Fábula, seja que o grosso do livro (uns 70%) é só mitologia grega (com alguns toques de mitologia romana e Greco-romana), e alguma coisa sobre outras religiões antigas, como crenças egípcias, zoroastrismo, hinduísmo, budismo e um apanhado de mitos nórdicos. Portanto, é um livro de mitologia grega no geral, e com abordagens básicas noutras crendices.

Mas, qual é a origem da mitologia segundo Thomas Bulfinch?

Teoria Bíblica: qualquer lenda viria das Escrituras, ou seja, a Bíblia seria a fonte de todas as lendas, “embora os fatos [?] tenham sido distorcidos e alterados.” Portanto, determinadas lendas trocam um nome por outro: “Assim, Deucalião é apenas um outro nome de Noé, Hércules de Sansão, Árion de Jonas etc.” Acrescenta ainda sobre essas coincidências, “mas a teoria não pode ser exagerada até o ponto de explicar a maior parte das lendas, sem cair no contra-senso.”

Teoria Histórica: aqui, a teoria seria a de que os personagens envolvidos nas tramas mitológicas eram pessoas reais, sendo que toda a parte fantástica e miraculosa eram “embelezamentos, surgidos em épocas posteriores.” Um exemplo disso seria sobre a divindade dos ventos chamada Éolo, levando em conta de que teria sido um rei “de alguma ilha do Mar Tirreno, onde reinou com justiça e piedade e ensinou aos nativos o uso da navegação a vela e como predizer, pelos sinais atmosféricos, as mudanças do tempo e dos ventos.” Ainda cita o lendário Cadmo, o semeador de dentes de um dragão (nasceram soldados daquelas sementes), o transmissor “das letras do alfabeto”, da Fenícia a Grécia.

Teoria Alegórica: de acordo com essa visão, a mitologia teria origem simbólica e alegórica, porém, com algum tipo de verdade para moralizar, seja de cunho filosófico ou religioso, ou mesmo com algum “fato histórico, sob a forma de alegoria, mas que, com o decorrer do tempo, passaram a ser entendidos literalmente.” O deus Saturno dos romanos, que devorava as próprias crias, é derivado do Cronos dos gregos, simbolizando o tempo, o qual “destrói tudo que ele próprio cria.”

Teoria Física: os quatro elementos populares até hoje (água, fogo, ar e terra), eram adorados religiosamente outrora, sendo que os deuses tinham uma representação na própria natureza – logo, não foi difícil que essa ideia da natureza miraculosa pular para a noção de que divindades sobrenaturais é que controlavam a própria natureza. Não é a toa que na mitologia grega é comum termos deuses personificados, “desde o sol e o mar até a menor fonte ou riacho, estavam entregues aos cuidados de alguma divindade particular.”

Bulfinch ainda observa que essas teorias “são verdadeiras até certo ponto. Seria, portanto, mais correto dizer-se que a mitologia de uma nação vem de todas aquelas fontes combinadas, e não de uma só em particular.” Vários mitos nascem também da busca pelo conhecimento: aquele desejo humano de buscar explicar a natureza a sua volta e não conseguir.

A análise de Bulfinch girou no século XIX, dentro de um contexto em que vivia. Só o fato dele usar uma teoria tendo a Bíblia como base, demonstra o peso da tradição judaico-cristão em sua interpretação. Mas, não levou em conta outros livros sagrados, como O Corão islâmico ou Mahabharata hinduísta, entre outros. Analisar só vendo a partir da Europa e algumas fatias anexas no Oriente Médio, é fácil. A teoria história e alegórica se fundem facilmente (pois mitos na Bíblia são corriqueiros). E para sermos justos nas análises: no livro sagrado do islã temos o anjo Gabriel, um personagem mitológico bíblico, e aqui, percebemos também que um mito puxa o outro; os povos nórdicos com seu dilúvio, pode ter origem com base na fábula bíblica do dilúvio, porém, muitas crenças mundo afora já mencionavam tal evento, incluindo de onde os hebreus inventaram a todo o enredo para criar o dilúvio: pegaram traços da narrativa do poema épico sumeriano de Gilgamesh. Religiões africanas são muito mais antigas que qualquer povo bíblico, isso Bulfinch não levou em conta (ou limitou suas pesquisas, ou não tinham conhecimento de culturas africanas, até porque a única coisa que ele menciona do continente africano é brevemente a cultura egípcia em seu livro). A teoria histórica é até coerente, mas só faz sentido se houver fontes, indícios para tal (do contrário, é só uma hipótese); a teoria física, é física apenas no sentido de representação (astros, montanhas, rios, etc.), pois é alegórica do mesmo jeito.

Logo, qual é a origem da mitologia? Ou melhor, depende do tipo de mitologia. O grosso dos mitos eram religiões, hoje extintas (toda religião vira uma mitologia), os demais, mitos laicos (sem conotação religiosa). De uma maneira geral, a mitologia consiste de fato em tentar explicar o mundo, as causas dos fenômenos da natureza, o comportamento humano, ou seja, os mitos querem (ou queriam) preencher lacunas do conhecimento com base na imaginação e nada mais. Em épocas sem a racionalidade científica, era normal dizer que a chuva era causada por um deus da chuva e que uma erupção vulcânica era causada por um demônio do fogo.

A origem das mitologias foi o medo, e mais: as religiões nasceram (e ainda nascem) do medo do que é inexplicável, pois o fator punição predomina no pensamento religioso – a maneira mais fácil de explicar tudo sem nenhum método racional, tendo o “conhecimento” do passado, presente, futuro e além-vida (depende da religião em questão, claro), é só aderir dada crença. Assim, quando uma religião é extinta (quando não tiver mais adoradores), ganha o status de mito ou mitologia.