Coluna PETGeral

Resistência Antimicrobiana: A ameaça do futuro

(Artigo escrito em 05/09/2019)

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A população atual do planeta atinge quase 7 bilhões de habitantes, com expectativa de atingir 9 bilhões em 2050. Este rápido avanço populacional tende a trazer sérios problemas relacionados à crescente necessidade do uso de substâncias para garantir a sanidade da população e a produção de alimentos, isto se não houver uma conscientização global para a necessidade de intensificar os estudos de alternativas mais sustentáveis e o uso de substâncias menos invasivas e agressivas ao meio ambiente.

O surgimento e a disseminação da Resistência Antimicrobiana (conhecida no meio científico como AMR – “Antimicrobial Resistance” – ou RAM) só pode ser descrito como um problema catastrófico para a saúde humana e animal. Isso quer dizer que os microrganismos tornam-se cada vez mais resistentes aos agentes antibióticos, desinfetantes ou outros agentes de controle antimicrobiano. É muito provável que haja mais mortes por AMR do que câncer, em aproximadamente 30 anos.

Pesquisas realizadas na última década relatam o surgimento e a disseminação do chamado Genes de Resistência Antimicrobiana (ARG – “Antimicrobial Resistance Genes” ) e mostram com mais clareza como este processo ocorre entre os patógenos e também dentro de comunidades de bactérias (entre diferentes espécies ou cepas). O impacto dos antibióticos nos microbiomas (conjunto de microrganismos que habitam um determinado organismo ou corpo) é motivo de preocupação e pode alterar drasticamente o equilíbrio orgânico e a relação imunitária, podendo gerar um grande desafio sanitário e enormes prejuízos à produção animal.

Estudos realizados em estações de tratamento de esgoto e águas residuais mostram que o avanço de ARG (genes de resistência) ocorre em uma escala global, devido a presença de resíduos de antibióticos e outros biocidas no esgoto – detergentes e desinfetantes, por exemplo –, os quais podem causar mudanças significativas na diversidade.

A importância dos microbiomas – a relação dos microrganismos no corpo humano e dos animais – é incontestável. A compreensão de muitos aspectos e relações participativas na imunidade e no metabolismo orgânico surgiu nos últimos anos (e continuam sendo estudadas), constituindo um quadro complexo de interações metabólicas com seus hospedeiros. Diversos trabalhos de pesquisa com microbiomas animais e vegetais fornecem uma visão ampla dos benefícios potenciais de microbiomas saudáveis, diversos e estáveis para uma agricultura ou produção sustentável. Compreender esta relação é fundamental para a segurança e produção de alimentos. Muitos aspectos precisam, ainda, ser estudados para revelar a importância das colônias microbianas no meio ambiente para a biorremediação (controle natural de contaminações) e a biodegradação (decomposição da matéria orgânica), além dos papéis vitais desempenhados nos ciclos de nutrientes.

Alguns antibióticos permanecem estáveis no ambiente e aumentam os riscos de disseminação de genes de resistência, podendo criar superbactérias ou cepas de atividades desconhecidas, fazendo com que seja muito importante a compreensão de como os microbiomas podem agir para degradar compostos de estruturas estáveis. Pesquisas recentes demonstram o surgimento de biodegradadores de antibióticos no ambiente e essas bactérias podem fornecer a resposta para reduzir a persistência de antibióticos e seus efeitos prejudiciais na natureza.

O crescente interesse e uso de suplementos nutracêuticos e terapias alternativas, em países onde a conscientização sobre os males do uso das terapias tradicionais e do uso indiscriminado de medicamentos e substâncias químicas “de controle”, é de extrema importância e serve de exemplo a ser seguido, e pode vir a ser uma alternativa para minimizar o avanço da resistência antimicrobiana e do desequilíbrio biológico de solos e águas.

O avanço das técnicas alternativas de produção, o uso de substâncias naturais, fitoterápicas, ionizantes, junto com um sério trabalho de conscientização e planejamento de produção agropecuária, industriais e de tratamento de rejeitos e efluentes ou esgotos sanitários torna-se extremamente necessário, caso queiramos evitar esse verdadeiro colapso de saúde pública global.

Infelizmente, vemos nosso país, até então, andar na contramão…

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