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VITAMINA D: Qual a verdade de seu benefício no controle de infecções

Vivemos a era das Fake News… esta terminologia “nova” não tem nada de novo; no entanto, a tecnologia de informação, a rapidez das veiculações, faz destas uma grande arma de controle e subjugação do povo.

O aforismo de que o jornalismo tradicional – e até mesmo a ciência – estaria “contra o povo” é mecanismo de subjugação popular já há muito conhecido. Que as grandes redes atendem aos seus interesses e aos interesses de seus patrocinadores ou parceiros, não é novidade alguma; mas daí a dizer que “mentem descaradamente” ou “atacam x ou y” ou que “não deixam o presidente governar”, já é uma grande falácia, típica de sistemas ditatoriais…

Estaríamos, nós, presenciando – inconscientes e submissos – um novo Sistema de Absolutismo, uma nova forma de ditadura? Só o tempo dirá…

Circulam, na internet, dezenas de textos, áudios e vídeos – inclusive, partindo de médicos e outros profissionais ligados à saúde – afirmando que a “Vitamina D” (Vit D) seria um “poderoso antídoto”, uma arma contra a Covid-19 e outras viroses, alegando que “a chance de morrer pelo novo Coronavírus, para quem tem altos níveis da vitamina D, é praticamente zero”. Isso é um desserviço, uma perfídia à saúde pública.

Muitos equívocos e falhas de interpretação, falta de pesquisas mais aprofundadas ou de maior amplitude de dados, levam a erros factuais, muito comuns na ciência. Parece uma incongruência; no entanto, há muito disso no meio científico, onde uma descoberta ou teoria passa a ser preceito de base para outros trabalhos, fato pelo qual muitas descobertas científicas surgem do acaso ou decorrentes de resultados imprevistos ou inesperados de outras pesquisas.

A Vitamina D (25OHD) é um pró-hormônio que atua como importante regulador do metabolismo ósseo. Basicamente, é produzida pelos rins e controla a concentração de cálcio no sangue. A síntese de vitamina D ocorre por meio da ação de raios Ultravioletas (UVB) na pele e, por isso, a exposição ao sol de forma controlada é fundamental para a saúde. Alguns alimentos também são fontes de vitamina D, podendo responder a cerca de 20% de nossa necessidade diária.

O processo metabólico de formação dessa vitamina é bem mais complexo, mas algumas etapas devem ser entendidas, para que entendamos os riscos de uma suplementação descontrolada.

Quando nos expomos ao sol, a radiação ultravioleta (UVB) atinge (a nível cutâneo) o precursor da vitamina D (7-Desidrocolesterol) que sofre uma clivagem fotoquímica (divisão molecular) originando a pré-vitamina D3. Essa molécula termolábil (ou seja, que está sujeita a alterações bioquímicas causadas pelo calor), em um período de aproximadamente 48 horas, sofre um rearranjo molecular que resulta na formação da vitamina D3 (Colecalciferol). No sangue, essa vitamina circula ligada a uma proteína. Chegando no Fígado, é convertida (Processo de Hidroxilação) em 25-Hidroxivitamina D – 25(OH)D – que representa a forma circulante em maior quantidade, no sangue, porém biologicamente inerte (sem capacidade de ação). O processo hepático de hidroxilação não sofre regulação metabólica, ao passo que os níveis sanguíneos de 25(OH)D refletem a quantidade de vitamina D ingerida ou produzida na pele. A etapa final da produção ocorre no Rim, originando a 1,25 Desidroxivitamina D – 1,25(OH)2 D3 – que é a forma biologicamente ativa.

A pré-vitamina D3 (na pele), após prolongados períodos de exposição ao sol, pode sofrer um processo de isomerização, sendo transformada em substâncias biologicamente inativas, sendo um importante processo metabólico natural que evita a superprodução de vitamina D ativa. Este é um processo que não ocorre quando se faz uso de suplementações artificiais.

Há um outro processo, cuja formação final não ocorre a nível renal e é chamada de Hidroxilação Extrarrenal. Parece haver uma diferença estrutural molecular entre a vitamina produzida nos rins e a formada fora dos rins. Pesquisas recentes demonstram que a “vitamina extrarrenal” é a que age mais diretamente na regulação imunológica, e este é outro fator que também não ocorreria com suplementações artificiais. A regulação deste processo, fora dos rins, é determinada por fatores como a produção de citocinas e de crescimento, e pelos níveis de 25(OH)D (vitamina formada no fígado), tornando essa via mais sensível à deficiência de vitamina D.

Diversas pesquisas sugerem essa relação metabólica da vit D com diversas reações orgânicas, muitas delas relacionadas ao sistema imunológico; no entanto, até o momento não é possível comprovar a relação causa e efeito. Resultados satisfatórios obtidos em centros de pesquisas são parâmetros “in vitro” ou “suposições”, conjecturas resultantes de metanálises, muitas destas, frágeis em embasamento ou variabilidade de dados.

Durante a pandemia, muitas pesquisas se voltaram para o questionamento da viabilidade e funcionalidade do uso de altas doses de Vit D para o controle das infecções ou inflamações causadas pelo coronavírus (Sars-Cov-2) e se haveria alguma relação entre a gravidade da Covid-19 e os níveis séricos desta vitamina em “pacientes hospitalizados”.

Um estudo publicado no The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism (JCEM – Oxford University) foi amplamente divulgado na internet; no entanto, trata-se de um estudo retrospectivo de caso-controle, ou seja, são dados coletados de pacientes já hospitalizados e não se sabe exatamente o que se tinha antes: quais os níveis séricos desta vitamina e quais as reais relações que levaram ou não ao quadro destes pacientes.

Os dados apresentados nesse trabalho devem ser avaliados com cautela, já que a relação da Vit D em quadros inflamatórios pode resultar de duas hipóteses; uma de que a inflamação reduz a concentração de Vit D, e outra de que, ao contrário, o aumento do nível de Vit D reduz o processo inflamatório. E nada, até então, foi comprovado.

O próprio trabalho em questão deixa bem claro (algo propositalmente ignorado pelos médicos que difundiram a ideia do uso desta vitamina) que não encontraram “nenhuma relação entre as concentrações de Vitamina D ou deficiência de vitamina e a gravidade da doença”.

Várias limitações fragilizam os resultados desse trabalho. Não que seja uma pesquisa pouco importante, pois abre portas para novos trabalhos, mas, a começar pelo fato de ser um estudo observacional que não permite estabelecer se a Vit D é um biomarcador de exposição ou de efeito sobre a doença, faz dele algo a ser olhado com cautela. Além disso, a pesquisa foi realizada em um único centro de saúde espanhol e os dados não podem ser generalizados.

Esse estudo não esclarece a relação real da deficiência da Vit D com a questão inflamatória, até porque a coleta e posterior resultado dos níveis séricos desta vitamina fora realizado quando o paciente já estava em pleno estado inflamatório, não tendo sido disponibilizado os resultados da vitamina D basal, anterior ao quadro, e mostra também que as concentrações em pacientes com Covid-19 que estavam suplementando Vit D foram menores do que o esperado, apoiando seu comportamento como um reagente de fase aguda negativo (de que a inflamação reduz a concentração de Vit D). Outro detalhe importante que fragiliza as informações desse trabalho é o fato de que o número de pacientes que tomavam suplementos de Vit D é muito pequeno para tirar conclusões sólidas para a evolução dos casos clínicos; foram apenas 19 pacientes.

O consumo indiscriminado de Vit D (vale lembrar que é uma substância sintética) que leve ao excesso, a nível sérico, pode causar sérios problemas de saúde, dentre eles: aumento de reabsorção óssea, altos níveis de cálcio no sangue (hipercalcemia), insuficiência e/ou formação de cálculo renal, hipertensão arterial, crises convulsivas e – por mais improvável que possa parecer – levar à morte.

Obviamente, existem quadros clínicos em que há a necessidade de suplementação, mas isso necessita de acompanhamento médico.

Nunca podemos confundir ações de substâncias naturais, em nosso metabolismo, com a ação de substâncias sintéticas. Não são a mesma coisa!

Um dos riscos da suplementação artificial é que a Vit D não é eliminada pelo corpo, quando em excesso. É uma substância lipossolúvel e, por este motivo, acumula-se no organismo, podendo chegar a níveis críticos e altamente perigosos. Portanto, muito cuidado com as mensagens que recebe em seu smartphone… não repasse informações, sem antes checá-las.

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