A Morte Negra: 25 milhões de mortos na Europa do século XIV
O vírus mais mortal que o mundo presenciou fora a Peste Negra (também chamada de Peste Bubônica ou ainda Morte Negra) que causara a morte de um 1/3 da população da Europa (números imprecisos), da China e também se propagou pelo Oriente Médio, entre 1347-1350. A doença mortal fora transmitida pelos ratos pretos que contaminaram a população com a chamada Peste Bubônica; a praga “atingiu a Europa Ocidental levada da região do mar Negro por comerciantes genoveses. […].” (FRANCO JÚNIOR, 1991, p. 81). Não importava a classe social dos indivíduos: dos mais pobres aos mais abastados, nem mesmo a faixa etária: crianças, jovens, adultos e idosos, incontáveis vidas eram ceifadas impiedosamente. (MATTHEW, 2008, p. 155).
As cidades medievais não eram planejadas, o que acabou contribuindo para a proliferação da Peste Negra; as casas eram literalmente amontoadas, esgoto ao ar livre, lixo infestando as ruas, intensa falta de higiene, etc. (ARRUDA, 1982, p. 424-426). Em meio ao caos pandêmico, os infectados eram enterrados, e em outros casos cremados. Até mesmo judeus e leprosos eram perseguidos, pois acreditavam que eram os causadores da Peste Negra. Noutros casos, a Morte Negra era um castigo enviado por Deus para punir os homens… O imaginário popular demonstrou um grande poder sobre as mentalidades coletivas. Entre 2 a 5 dias era o tempo de vida dos infectados, de acordo com os relatos do médico-cirurgião Chauliac (1298-1368). Vejamos algumas de suas palavras, que demonstram certa a noção do pavor disseminado na época: “Era tão contagiosa, que não sòmente [sic] pelo fato de estar juntos, como por olhar um para o outro, as pessoas se enfermavam; […] a caridade tinha morrido e a esperança apenas respirava. […].” (apud GIBELLI, 1958, p. 334).
Boccaccio (1313-1375), um renomado escritor italiano, afirmou que a doença matava velozmente as vítimas: “Almoçavam com seus amigos e jantavam com seus ancestrais no paraíso.” (MORTE…, 2009). O Desespero tomara conta da atmosfera medieval: “No meio de tanto desespero e irracionalidade, houve alguns episódios edificantes. Muitos médicos se dispuseram a atender os pestosos com risco da própria vida. Adotavam para isso roupas e máscaras especiais. Alguns dentre eles evitavam aproximar-se dos enfermos. Prescreviam à distância e lancetavam os bubões [bolhas] com facas de até 1,80 m de comprimento.” (PESTE…, 2009, grifo nosso).
Como se não bastasse tanta agonia, surgiu o movimento misticista dos Flagelantes (eles se auto-martirizavam, crentes de que essa era a salvação), um grupo desacreditado da religião tradicional que lutava contra Peste Negra, ou pior, perseguiam os infectados. A Peste Negra acabou sendo diminuída em fins do século XIV, já que as medidas com relação à higiene começaram finalmente a serem levadas a sério. Porém, seus focos epidêmicos ainda persistiram durante um bom tempo, pelos países circunvizinhos. (continua…)
Referências bibliográficas e sítios
ARRUDA, José Jobson de Andrade. A Baixa Idade Média: A transformação do Feudalismo e a Evolução da Conjuntura. In: ______. História antiga e medieval. ed. São Paulo:Ática, 1982. p. 419-432.
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A crise. In: ______. O Feudalismo. 10. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991. p. 78-94. (Tudo é história, v. 65).
GIBELLI, Nicolás J. (Org.). Curiosidades. In: ______. Nosso Universo Maravilhoso. Trad. Leonam de Azevedo Penna. Rio de Janeiro: “Brasil Lê” S.A., 1958. v.2. p. 327-348.
MATTHEW, Donald. Ciência e medicina. In: ______. Europa Medieval. Trad. Alexandre Martins. Barcelona: Folio, 2008. p. 152-155.
MORTE Súbita Inc. Disponível em: <http://mortesubita.org/jack/miscelania/textos/peste-negra>. Acesso em: 22 maio 2009.