Teorias & Fatos Históricos

O MITO DO VAZIO DEMOGRÁFICO NO PARANÁ (1920-50)

Não é de hoje que a ideia de um vazio demográfico (ou seja: uma ou mais regiões praticamente sem habitantes) percorreu livros e mais livros de história, focando este artigo no Paraná. Lúcio Tadeu da Mota contestou a ideia de que não havia ninguém antes dos colonizadores, algo até bem óbvio. Porém, nos discursos oficiais, e por consequência, chegando na educação (livros didáticos), ou mesmo nas palavras de um e outro autor, estudos acadêmicos, parte do Paraná (sobretudo o Norte do estado) foi ocupado lá pelos anos 30. Entre os discursos mais comuns, temos aqueles que remetem as terras desabitadas, abandonadas, devolutas, ou ainda, em termos mais eruditos para a época, como “selváticas” ou poetizando, “virgens”.

E no Oeste e Sudoeste do Paraná? O mesmo esquema de manter a ideia de que ninguém andou por aqui antes dos primeiros “desbravadores”, os colonos que chegaram e fincaram suas raízes em dado local.

Havia um interesse em apagar vestígios da história, onde uma classe mais abastada de colonos eclipsou totalmente a história que ocorria antes. Na historiografia oficial a região foi ocupada de maneira pacífica, pois não tinham ninguém aqui e ali.

E os indígenas que circulavam pelas regiões do Paraná antes dos colonos chegarem? Os nativos já estavam pela região do sudoeste paranaense, variando em dado pontos, há cerca de 10 mil anos.

Aí que entra a questão: por que houve intenção de esconder indígenas na história e ao mesmo tempo, quem fez isso?

Citamos antes uma classe dominante, e o porquê é bem claro: indicar um pioneirismo-saudosista e até um ideal de “progresso civilizatório” de que haviam desbravadores? Sem contar que era uma visão etnocêntrica em relação aos índios, excluídos pelo processo colonial.

No entanto, o que a história oficial não conta, é sobre a expulsão dos nativos por meio da violência, onde o “civilizado” usava da força pra garantir seu espaço geográfico.

Mota adiciona também: “A percepção crítica do sistema de dominação colonial resulta na elaboração de uma teoria que coloca a relação da sociedade européia cristã e industrializada com as sociedades indígenas da Ásia, África, América e Oceania centrada no binômio dominação/subordinação que compõe uma totalidade.” Traduzindo: a intenção era esconder/ocultar a presença dos nativos na história para enaltecer “um lado só da história”, a versão dos dominadores ou “vencedores”. Battistelli e Saraiva apontam ainda, que o processo de pacificação em torno dos Kaingang (década de 30) se tornou um massacre de vários modos, como doenças que os colonos transmitiram aos nativos (gripe, sarampo e varicela) e claro, assassinados por matadores contratados (pelo Estado do Paraná de então) exclusivamente para esse fim.

Obs: claro que nenhum povo é totalmente “inocente” ou “culpado” em tudo – uma análise profundamente histórica tem muitas facetas para destrinchar, e o viés ideológico também pode atrapalhar isso. Voltando: índios não eram santos, também matavam (guerras ou rituais) e queimavam matas (para plantio), assim como o colono também, mas devemos compreender sempre os contextos de cada povo, de cada cultura, para evitarmos julgar, e na história, o historiador (profissional, não o historiador-ideólogo), não julga nunca.29