Comunicação

Papel de jornalista

                Desde as manifestações de 2013, o Brasil nunca mais foi o mesmo. O embate “nós contra eles” que ficava apenas nas teorias e em discursos esporádicos, se transferiu para a prática de um jeito que, até agora, não teve mais volta. E não foi só por 20 centavos mesmo, eles avisaram.

                E também desde então surgiram as múltiplas teorias da conspiração, caça aos inimigos imaginários, com o encontro com um novo culpado todos os dias. Os jornalistas também entraram nessa “lista negra” dos extremismos, coisa que talvez não acontecesse com tanta intensidade desde o período militar. 

                Estava vendo alguns dias atrás uma entrevista muito boa do Luciano Potter –  atualmente na Rádio Gaúcha e em vários outros projetos – no podcast do Felipe Solari. Em um dos momentos ele toca no ponto do quanto é cobrado tanto pela direita quanto pela esquerda por seus posicionamentos. A direita o chama de comunista, a esquerda diz que ele não se posiciona. Mas a resposta foi a melhor de todas: “eu sou jornalista – seguido por um palavrão que aqui evitaremos”. E isso passa justamente pelo papel do jornalista, do bom jornalista, que duvida, questiona, extrai tudo que pode e mais um pouco. Jornalista não idolatra ninguém. Jornalismo não é isso e política também não. E pior: as vezes ele pode, sim, colaborar para “encrencar” alguém ou para que se criem provas contra si mesmos. E muitos trechos de entrevistas já foram parar nas CPI’s da vida, heim. Ah! E isso não é “murismo”, como dizem por aí. Isso é profissionalismo. Gostar é uma coisa, idolatrar é outra.

                Eu sou publicitário. Já realizei e realizo alguns trabalhos que tem alguma ligação com o jornalismo. Atualmente estou presidente de uma associação de imprensa. Tenho muitos amigos jornalistas. Porém, acima de tudo e qualquer coisa, venho do campo da comunicação social – aquele que engloba todas essas vertentes e várias outras ainda. E quando pisam nesse calo, me dói de verdade. Dói porque essa também é uma profissão que deve ser respeitada da mesma forma que todas as outras são dentro do seu conhecimento e sua experiência. Julgamentos radicais e, principalmente, pré-julgamentos baseados na pura ignorância não me descem. A paciência não suporta mais. E episódios desse tipo estão cada vez mais comuns, infelizmente. Basta cada um cuidar do seu quadradinho. 

                Já me perguntaram se acho que jornalismo é imparcial. Não, não é. Isso é um grande mito. Mas, na minha opinião, o jornalismo pode e deve ser equilibrado. Esse é o grande termo, para isso e para muitas outras coisas na nossa vida. Liberdade de imprensa é questão de respeito. E sempre acreditei que tudo, absolutamente tudo na vida começa pelo respeito. Uma palavra mágica, curta, simples e forte. E que, assim como canja de galinha, não faz mal para ninguém.